

Conheci Matthew na universidade. Ele era veterano em Música. E eu, caloura de Letras. Como diziam: ele tinha a melodia e, eu, as palavras. Era a melhor maneira de nos descrever na época.
Não havia um casal de amigos mais ligados que nós. Nossa amizade começou no primeiro dia, assim que esbarrei em suas coisas e deixei seu violão cair. Após xingar baixinho, Matt me ajudou com meus livros. E, na desculpa de me guiar para encontrar minha sala, ele me acompanhou pelo campus. Conversamos sobre tudo. Tudo, mesmo. Era como se eu já o conhecesse há anos.
Nossa amizade continuou após Matt se formar. Continuamos nos vendo fora dos corredores e além dos intervalos. Seus problemas eram meus problemas. E um deles se tornou, literalmente, meu.
George, seu pai, sempre foi apegado aos negócios. Preocupado com o andamento da empresa de sua família, George queria, mais que tudo, um neto. Sua saúde não ia bem. Assim como o medo de perder a herança que recebeu.
Matthew era filho único. E, como garantia, George precisava de um neto. Só assim, segundo ele, seu “reinado” poderia ser passado ao filho. Claro que, assim como eu, Matt achava tudo isso uma tremenda bobagem.
Porém, George estava pior a cada dia. Espalhava aos quatro cantos da casa que, antes de morrer, necessitava conhecer seu pequeno herdeiro. Queria mais que tudo – até mesmo que saúde – que Matthew tivesse um filho.
É aí que entro na história.
E é aí que minha paixão – mesmo que confidencial – arruína tudo.
Matthew estava desesperado. Queria se livrar da ideia maluca do pai. Mas, por outro lado, também queria deixá-lo partir feliz. Ele sabia que a morte de George era inevitável. Seu coração já não aguentava mais e, a cada dia, sua aparência piorava. Os dois ataques cardíacos haviam acabado com o pai. Até Matt, que sempre vivera sorrindo e cantando, tinha uma aparência mais doentia.
Era pressão para todos os lados.
Matt queria agir logo. Desesperado, ligou para a escola onde eu estagiava. Após o fim do meu expediente, encontrei-o em um pub no centro da cidade. Matthew estava exausto, sonolento e, principalmente, nervoso.
Não me lembro de suas palavras exatas. Apenas consigo lembrar de seus olhos cheios de lágrimas, suplicantes.
Seu pai queria um neto.
Matt queria ver seu pai feliz. Seja onde estivesse e seja como fosse.
Eu queria que meu melhor amigo tivesse uma solução para esse problema.
E a solução apareceu. A solução era eu. Eu e uma inseminação artificial que, apesar das complicações, me deu o melhor presente do mundo: Rupert Brown.
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