
Confira os capítulos anteriores.

Cheguei em casa antes das 14h. Entrei na cozinha, comi algumas besteiras e fui até o escritório dar continuidade a história que estava escrevendo.
Minha vida se resumia a isso: trabalho voluntário na biblioteca da cidade, cuidar de Rupert e escrever. Depois de ter meu filho, fui obrigada a deixar minha carreira em Letras e viver só para ele. Porém, como não queria ficar com tempo ocioso nem depender 100% da família de Matthew, comecei a fazer alguns trabalhos como freelancer e a ler para as crianças no cantinho de leitura da biblioteca.
Os livros que eu precisava ajudar na edição já estavam prontos. Critiquei-me por ser tão rápida. Agora não havia nada mais a ser feito.
Liguei o computador e procurei minha pasta de textos. Enquanto buscava o documento da história que escrevia, achei um arquivo com o nome semnome-hahaha.doc. Eu tinha essa mania de nomear os textos com nomes diferentes.
Abri o tal documento e comecei a ler. Era um texto meu:
“Viver é nosso maior dom. Viver é o que temos de melhor. E, por isso, não podemos deixar de lado nossa vida e viver a de outros.
Quando criança, sonhamos em ser tudo. São sonhos que, talvez, nunca vão se realizar. E sabe por quê? Por medo. Por receio. Por vergonha. Porque ao crescer perdemos aquela magia da infância. Perdemos aquela inocência e vontade de conseguir tudo.
Ironicamente, é justo quando perdemos tudo isso que precisamos ainda mais. Nós temos que almejar sempre. Temos que querer, antes de qualquer coisa, a felicidade. Temos que viver por nós. Apenas para nós.
E também temos que deixar de idealizar. Devemos aceitar que a vida é assim, com todas suas qualidades e seus defeitos, e fazer o melhor com o que temos em mão.
Por isso, corra atrás. Desista de tudo se for possível. Jogue para cima o que incomoda e te afasta de ser feliz. Desapegue das coisas que te atrasam e te impedem de seguir adiante. Há um caminho esperando por você. E caminhos são feitos para serem percorridos.
E quando chegar ao final da estrada, você vai ver que valeu a pena. Também vai perceber que, mesmo com as pedras e os buracos, o caminho é maravilhoso. E tão maravilhosa é a vida.”
Terminei de ler o texto com umas duas lágrimas no rosto. O texto, em si, já me faria chorar. Mas, lembrar que a dona daquelas palavras era eu foi o fim.
Eu nunca imaginei que seria tão controversa. Que, algum dia, iria ser contra tudo o que eu mesma escrevi.
Por outro lado, nunca imaginei que minhas palavras seriam meu combustível para tentar.
Refleti sobre o que, hoje, significava felicidade para mim. Duas pessoas vieram em minha mente: Rupert e, para minha surpresa, Matt. Apesar de tudo, eu o amava. Apesar de nossa relação forçada e desgastada, eu o desejava. Nós nunca tínhamos nos tocado e nossos lábios não se conheciam. Mas eu o sentia a cada noite. Podia sentir sua respiração perto de mim.
E foi com lágrimas e um sorriso no rosto que deixei o escritório. Hoje seria o dia em que começaria a tentar. Não custava nada…
Eu queria Matt mais que tudo. Queria ele como um marido. E não só no papel.