Nós estávamos em meio a telões coloridos, com o mundo quase literalmente à nossa volta. Eu poderia jurar que era um filme – o cenário era o mesmo daqueles que assistimos tantas vezes pela tela do celular, deitados na sua cama enquanto sonhávamos criar nossa própria cena. Você mudou do vermelho pro amarelo em milésimos de segundo. Só que minha cor favorita estava longe de ser transmitida ali – só seus olhos eram capazes de refleti-la.

Você me beijou e eu poderia jurar que, em algum momento, alguém gritaria “corta”. Eu não era capaz de cortar. Queria parar o tempo naquela cena, no milésimo de segundo em que nossos lábios formaram um caleidoscópio apaixonado. Era de noite, mas eu me sentia em meio à aurora.
Sua mão tocou a minha enquanto me levava para aquele maremoto de pessoas. Era o lugar mais movimentado do planeta, mas nem todos os sotaques e palavras irreconhecíveis conseguiam me tirar do nosso universo particular. O barulho era alto e eu só tinha ouvidos pra você.
A fina chuva começou a despencar do céu, de nuvens que eu nunca enxerguei. Pela primeira vez em quatro semanas, eu temi ser irreal. Aquelas gotas em meu rosto poderiam facilmente ser apenas lágrimas falecendo no mesmo travesseiro que por anos abraçou meus dramas. Fechei os olhos e apertei-os com força. Abri de novo e as cores continuavam lá, junto com seu sorriso mais radiante.
Minha voz ficou para trás enquanto entrávamos no híbrido do real e ficção. Eram histórias demais. Bruxas, artistas, casais, amor. Poderíamos fazer parte de qualquer enredo, se tivéssemos o passaporte ideal.
Nenhuma era tão intensa quanto as cenas que criávamos ali.
Eu peguei meu celular durante sua busca pelo desenho perfeito. Atrás das 2 horas da madrugada, a tela me estampava voando com o apoio dos seus braços. E ali, entre pessoas e personagens, tudo fez sentido.
A verdade é que nenhum mundo é completo sem nosso universo particular.