O corpo dela não é seu. Nem de ninguém mais. Isso mesmo: é dela. Ela resolve o que fazer com seu cabelo, sua barriga e qualquer outra parte. Nem você, nem eles, nem eu temos poder sobre o corpo dela. Fácil na teoria, difícil na prática.
Quantas vezes você já julgou alguém por usar um short curto? Ou, sendo mais razoável: quantas vezes você já se perguntou por que aquela menina, simplesmente, não fazia uma dieta para emagrecer? Por que a garota não parava de usar uma estampa tão fora de moda?
Nós temos mania de se apodar do outro. De achar que ele nos pertence, mesmo que seu rosto, suas curvas e seu sorriso nunca tenham feito parte do nosso dia-a-dia. Achamos que o mundo inteiro precisa ser do nosso jeito. Ou se encaixa nos nossos padrões ou é ruim, errado. Quem disse?
Quando nossas opiniões afetam a vida de outras pessoas, devemos parar e refletir o que estamos fazendo. Ser contra a descriminalização do aborto, à igualdade entre homens e mulheres, continuar achando que a culpa é da vítima, não do agressor, e puni-la por usar um vestido “curto” ou estar sozinha à noite em algum lugar, é algo que deveria ficar aí: dentro de você. Lembra uma vez que te disseram na escola que todos nós temos preconceitos? Ninguém é livre de julgar. A diferença é o que você faz com sua opinião.
E daí se a mina abortou ou tem direito de abortar? E daí se ela pega outra garota? E daí se ela está acima do padrão de beleza e se acha maravilhosa? E daí se ela quer curtir a vida, seja pegando dez na mesma noite ou guardando-se para o cara que ela escolheu viver suas aventuras?
Enquanto a gente colocar nossa opinião como bem maior, nunca vamos avançar. Ninguém te obriga a ser gay se você não for. Você pode continuar sendo uma hétero feliz e deixar um homo ser, também. Quem ele beija ou com quem ele transa não faz dele um ser inferior, nem digno de agressões (físicas ou verbais). O que deveria valer nesse julgamento é nosso caráter, como tratamos as outras pessoas e o que fazemos aos outros.
Se você é contra o aborto, tudo bem. É contra usar vestido curto, tudo bem. Não quer sair com vários caras, tudo bem, também. Apenas não aborte, não vista essas roupas e não saia com todos que aparecer. Você tem direito de ter sua opinião. O que não vale é me obrigar a pensar da mesma forma.
Mulheres sofrem todos os dias sendo vítimas de estupro, assédio no transportes, gravidez indesejada, julgadas como ser inferior e censura de ser ela mesma, de se entender. Nós temos que seguir um padrão que nem sabemos por que existe. Não temos autonomia do nosso próprio corpo. Não temos livre escolha de quem vai tocar nossos lábios, nossas pernas, nossos seios. Não temos direito de escolha. “Fez, pagou”, é o que dizem. Criminalizam-nos por ter uma vagina ao invés de um pênis. E ainda querem nos punir por querer mudanças.
Não estou aqui para impor o que eu acho – até porque acabei de dizer que ninguém deve fazer isso. Escrevi este texto porque acho importante, acima de tudo, que a gente saiba respeitar o próximo, deixá-lo livre para fazer o que quiser com o que tem, e não culpá-lo por isso. Cada um é feliz da sua forma e cada um precisa de um espaço no mínimo agradável para isso. Precisamos ter nossa opinião e não deixar que ela afete o próximo. Só queremos ter escolha. E poder sobre o que somos, queremos e esperamos do mundo. É pedir demais?
Infelizmente, às vezes parece que sim.
7 Comments
Arrasou no texto, perdemos tempo demais julgando as pessoas, o que elas são e suas escolhas e muitas vezes esquecemos de viver nossas escolhas. Todo mundo é livre, isso que deve importar.
Beijos
Dani Villela
Uauuuu, parabéns, adorei o texto! Beijinhos <3 http://amordesegunda.blogspot.com.br/
Concordei com tudo, exceto… O aborto. Simplesmente porque, na minha opinião, essa questão não envolve apenas o corpo da mulher, mas de outro ser independente. Não acho que a mulher deva ser sempre culpada por engravidar, muitas vezes a forma com que isso aconteceu foi uma fatalidade. Simplesmente acho que nada – um acidente, descuido, estupro – pode dar o direito de alguém de tirar outra vida, mesmo que, infelizmente, essa vida esteja no corpo dela.
Espero que não me entendam mal, apenas expondo uma opinião aqui. Respeito quem pensa diferente, mas acho válido ressaltar esse outro ponto de vista.
Aí que tá. Você é contra porque considera que é uma vida (eu também penso que é). Mas nós não devemos nem podemos impor que outra pessoa pense assim, entende? Se é contra, é simples: não faça. Eu não faria, mas há mulheres sem condições alguma de criar uma criança (seja fruto de uma violência sexual ou não). Se ela quer tirar, e julga que isso é o melhor pra ela, por que não dar essa chance? E outra: quantas mulheres não morrem por dia fazendo aborto em clínicas clandestinas? Proibir não adianta porque continua acontecendo, mais fácil dar a estas mulheres um apoio psicológico (que muitas vezes faz com que elas não queiram tirar o filho) e estrutura para fazer, se necessário. Aliás, falando em vida: por que a vida da mulher seria menos importante que a do bebê que nem nasceu ainda?
Enfim, o propósito do texto foi apenas falar isso: você pode ser contra o que for, mas não quer dizer que todos precisam ser.
oiii! Acabei de conhecer teu blog. Parabéns, muito bom. Adorei.
"Enquanto a gente colocar nossa opinião como bem maior, nunca vamos avançar." GENIAL!
Muito bom.
Te acompanharei.
Beijinhos.
http://www.verdadeescrita.com/pra-voce-que-desistiu-de-mim/
Falou e disse, Ju! 👏
O problema hoje em dia é que ninguém respeita a opinião de ninguém. Algumas pessoas querem enfiar na sua cabeça que é aquilo e pronto. Difícil saber lidar com gente assim…
http://blogdicasdasarah.blogspot.com.br/2015/04/duvida-cruel.html