Tag: eu lírico

  • Me espera?

    Quebro a unha do dedão enquanto, da cozinha, o cheiro de comida fica cada vez mais forte. É a primeira vez, em dias, meses ou sei lá quanto tempo, que eu sinto algum tipo de paz – se é que posso chamar assim – emocional. No meu telefone, nenhuma mensagem no Whatsapp. Até os grupos silenciaram. O único barulho, de fato, é da minha playlist de músicas favoritas do mês no Spotify.

    Minha perna está trêmula – de frio, de angústia, sei lá. Uma brisa entrou pela janela, fazendo minha pele ficar arrepiada. De fundo, alguma música toca mas nem sei muito bem o que diz. Eu abri um documento em branco querendo escrever. E tentar, pelo menos um pouquinho, tirar de mim o que tanto ocupa meus pensamentos.

    Há alguns dias, eu tive uma crise. Não sei se foi a primeira, porque, na verdade, eu nunca parei para pensar nisso. Mas essa foi, com certeza, uma crise. Do tipo que a gente dá esse nome, mesmo. Não do tipo que a gente acha que é. Porque foi.

    Veio tudo de uma vez só. E doeu. Doeu cada pedacinho de mim – mental e fisicamente. Foram várias pontadas ao mesmo tempo. De vários lados. Algumas, nem vi de onde chegaram. Senti todos os membros do meu corpo pararem de me obedecer. Minha perna estava inquieta. Minha respiração estava acelerada. Meu coração, então, nem digo.

    É difícil pensar quando estou passando por um turbilhão de pensamentos, de emoções e vivências. Eu estou perdida. E, desta vez, é real oficial. Sem mapa, sem GPS e sem internet para pesquisar minha localização. Não faço ideia se vou para a direita, para a esquerda, se dou dois passos a frente ou para trás. Ou se fico parada, por aqui mesmo, esperando alguma coisa.

    Que eu também não sei o que é.

    Eu ainda estou aqui, tentando entender quem eu sou. Querendo saber qual é essa versão que me encontro. Se é um período de transição, eu não sei. Só sei que não consigo aguentar muito mais. A próxima porta ainda está fechada e não faço ideia onde encontro a chave.

    Nem sei se é a porta certa, para dizer a verdade.

    É um caos só. A vida fez questão de me jogar aqui. Ou fui eu mesma que parei nesse lugar. Não sei. Essa tem sido minha frase: não sei. E, de verdade, eu não sei.

    Não me reconheço no espelho. Faz tempo que não uso um batom para sair. Passar um delineador no dia-a-dia se tornou uma realidade distante. Minha necessaire de maquiagem está quase deixada de lado – só abro o zíper para utilizar o desodorante, a escova e a pasta de dentes. Queria saber o que acontece, mas não consigo.

    Só sei que, aos poucos, eu estou ainda mais distante do que desejava ser. Do que era. Estou perdendo tanto tempo fazendo o que não quero, o que não gosto. Onde ficaram aqueles momentos livres para ser e fazer, simplesmente, o que eu sentia prazer?

    Sinto que estou perdendo até quem está ao meu lado, e isso dói. Dói porque minha confusão se estende para aqueles que andam junto comigo. Dói porque eu não escolhi passar por tudo isso. Dói porque eu sinto que, cada vez mais, estou perdendo cada um deles.

    Enquanto tento me entender, eles tentam me acompanhar. Mas não é fácil. Eu sei disso. Tenho medo de, no meio dessa tempestade de confusão, sentimentos e dúvidas, eles desistam. Eles se esqueçam do que está por trás dessa confusão toda. Pelo menos, em algum lugar por aqui, mesmo que perdida: eu. Aquele eu que eu ainda não reencontrei, mas sei que vou em algum momento. E resolver. Seja lá o que seja preciso resolver e seja lá o que isso signifique, de fato.

    É como diz, num timing perfeito, a música da minha playlist que toca agora: Tenta me reconhecer no temporal, me espera. Eu ainda estou aqui. É pedir muito?

  • Só mais um daqueles textos escritos em uma madrugada qualquer

    Nós achamos que a vida só ganha sentido quando encontramos alguém que resolve dividir tempo, pensamentos e coração com a gente. Na verdade, o desafio não está em encontrar essa pessoa, nem em fazê-la corresponder o que sentimos. Esse é só o começo e, olha, seria bom se toda a dificuldade se resumisse a isso.

    O amor não é só flor. Algumas paixões se vão sem conhecer o aroma nem a cor das rosas. Aos poucos, a gente descobre que o maior desafio é a convivência. Entender que o outro não é perfeito, diferente daquela primeira impressão que temos quando estamos apaixonados. Mas há um desafio ainda maior: entender que a gente também erra.

    Uma vez eu li em algum lugar que, em um relacionamento, os dois precisam jogar no mesmo time. Sem partidarismo nem egoísmo. Ninguém está, nem deve estar, contra o outro. Se estão juntos no Facebook ou por uma aliança, a união deve se seguir em todas as áreas. E isso inclui quebrar a cara, fazer sacrifícios e até mesmo mudar coisas que você jurou de pé junto que nunca mudaria. Tudo precisa ser mútuo, recíproco.

    Os filmes da Disney me ensinaram que sempre há um final feliz. No mundo real, a história é outra. Nas fantasias a gente nunca sabe o que aconteceu depois do the end. E se a princesa descobriu que o amor da sua vida é um idiota egoísta? Se o príncipe descobriu que sua amada não gosta dos mesmos programas que ele? Tudo pode acontecer. E acontece. Só depende de nós tentar prolongar a história e nunca deixá-la chegar a um fim.

    O tempo pode nos mudar, até mesmo nos desgastar. A rotina é uma droga que vicia e acaba com a gente. É preciso muita paciência, criatividade e ajuda para driblá-la e não cair nesse abismo. O esforço não pode partir de um lado só, e é importante entender que a gente também precisa participar. Ou isso ou deixar o destino e o tempo tomarem a frente e decidirem o que fazer.

    De tudo isso, o que fica é a certeza que nós estamos em constante mudança. E isso vale para qualquer tipo de relacionamento: com seus pais, amigos, colegas, namorado… Se um não está apto a colaborar, não adianta. E principalmente: entender que nós mesmos precisamos estar prontos para isso. Está aí um desafio que a gente tem que vencer diariamente. Ou pelo menos tentar, sem soltar as mãos nem deixar o outro cair sozinho.

  • Por que eu não me apaixonaria por você?

    A vida é tão engraçada. A gente acha que tá tudo bem até aparecer uma pessoa que vira as coisas de cabeça pra baixo. E isso não é ruim. Às vezes nós estamos vivendo do lado avesso e é preciso alguém para nos colocar na direção certa.

    Você apareceu nesse momento. Eu jurava que estava tudo certo. Foi preciso você vir para me mostrar que eu poderia ser ainda mais completa. Já tinha aprendido a não depender do amor, a sorrir além dele. O único amor por aqui tinha nada a ver com o que você me apresentou. Era tão novo que, no início, juro que senti medo de me jogar. Mas me joguei. São essas surpresas que tornam tudo melhor.

    A gente deixou que nosso sentimento ficasse ainda mais intenso. Tudo se tornou mais fácil, mais natural, ao seu lado. Ainda bem. O gostoso do amor é isso: não tentar ser outra pessoa, ser você. Não ter vergonha de usar aquela sua blusa favorita só porque é velhinha. Ou até se importar menos em usar a camisa xadrez dele. Trocar o salto por um tênis naqueles dias que você só quer se sentir confortável – e saber que não só você se achará linda, ele também.

    Mesmo não sendo possível viver um romance de filme todos os dias, a gente sabe que o amor só cresce. Nem sempre dá para conhecer uma praia legal ou receber um buquê de flores com cartão. Mas cada pequeno segundo do dia-a-dia torna uma delícia se apaixonar. E cada vez mais.

    Você faz de tudo para me ver bem. Arranca um sorriso meu até quando quero chorar. Naqueles dias de TPM, me oferece chocolate e seu ombro para reclamar da vida. Aceita até que eu reclame de você. Briga comigo quando eu quero desistir do que gosto – e não deixa que eu faça essa besteira. Me ajuda em meus planos e até sonha comigo. Me dá sua mão naqueles momentos quando sinto que vou cair (às vezes, literalmente). Não deixa passar um dia sem dizer que me ama. Cuida do meu corpo com carinho, como se fosse um diamante a zelar. Do meu coração, com cuidado, como se pudesse quebrar a qualquer momento. Você aceita que eu seja eu mesma, sem me limitar. E até ama tudo isso (por mais estranho que possa ser).

    Nós somos incríveis quando estamos juntos. Sua boca se encaixa perfeitamente na minha e posso sentir seu coração bater forte a cada vez que elas se juntam. Já se passou tanto tempo, mas as borboletas ainda dançam em meu estômago sempre que você está por perto. Talvez a paixão não tenha ido embora. Que fique por muito tempo.

    Como eu não me apaixonaria por você, quando a gente se completa tão bem? Seria impossível não acontecer. Quando penso na vida, não me imagino com outra pessoa. Não que eu seja sua dependente, mas seria difícil me acostumar a não tê-lo em meus dias. O vazio que se completou – e eu nem sabia existir até você chegar – voltaria. E seria difícil lidar com ele.

    A menina de um ano atrás mudou muito. E sei que você, também. Aprendemos coisas novas juntos. Aí que tá a graça da vida. Gosto de lembrar do começo, quando éramos dois bobos apaixonados sem ideia do que iria acontecer. E é gostoso saber que, mesmo não sabendo ainda, eu tenho uma ideia melhor do futuro.

    Não sei o que está por vir. Mas se for com você, tudo bem. Que venha.

  • O ano passou voando e eu…

    O ano passou voando e eu… Esqueci que tenho asas. Permaneci parada, estagnada no mesmo lugar. Não sei o que fiz nesses 365 dias. Com certeza, nada espetacular nem grandioso. Não me lembrei dos projetos que fiz e vivi cada dia como se fosse único. Não no sentido de sempre.

    Não digo isso como algo ruim. Afinal, 2014 foi um ano introspectivo, de viver para mim. Dei-me a liberdade de aproveitar cada segundo, cada abraço e cada respiração. Beijei muito, ri pra caramba e mudei mil vezes. De cabelo, de estágio, de perspectivas, de cores. Permaneci no preto, branco e vermelho de sempre mas também me arrisquei no verde, no rosa. Fui aos poucos chegando a algum lugar, mesmo sem saber onde o próximo passo me levaria. Surpresas. Aprendi a gostar – e muito – delas.

    Meu ano foi leve, fácil. E sei que é egoísmo dizer isso quando tantas coisas ruins aconteceram por aqui. Queda de avião, mortes, enchentes, pessoas que perderam tudo. Passei a viver ainda mais perto da tragédia e das notícias ruins e não me deixei esfriar.

    Eu mal liguei o computador nesses 365 dias. Aprendi que posso fazer quase tudo com o celular. Quase. Deixei o blog de lado, sem querer, para aproveitar o mundo real, mesmo sem saber, conscientemente, o que estava fazendo. Se tem algo que 2014 me ensinou é a ser natural, fazer no meu tempo. Fiz. E foi ótimo.

    Nunca fui de fazer metas porque eu nunca consegui cumpri-las. Mas fiz um esforcinho e prometi que 2015 vai ser meu ano. O meu e do Julie de Batom. Não estou falando em sucesso, mas em comprometimento. Vai ser difícil? Vai. A faculdade está me esperando com um Trabalho de Conclusão de Curso (ah, o TCC!) para fazer. O estágio me faz acordar junto com as galinhas e me trouxe uma rotina hiper corrida. São desafios. E me proponho a passar por mais um.

    Este post não é uma promessa aos leitores, é um lembrete a mim mesma. Posso conseguir o que quero se eu me esforçar. Descansei muito em 2014, agora é hora de trabalhar. O ano passou voando, e o mesmo vai acontecer com 2015.

    A única diferença é que, desta vez, eu voarei junto.

  • Rascunhos

    Meu cobertor ainda tinha seu cheiro quando o peguei no fundo do guarda-roupa. Lembrei do dia em que você me disse que me amava pela primeira vez. Eu devia ter contato todos outros ‘eu te amo’ a partir deste, ou pelo menos ter dado mais importância a eles. Se eu soubesse que um dia existiria um último, talvez não precisasse tanto escutar sua voz dizer essas três palavras novamente.
    Eu aposto que a essa hora você está sentado em frente à sua janela, apreciando as ondas do mar. Lembro de ficar admirando seu rosto enquanto a luz da lua iluminava seus olhos. Às vezes, me chamava para sentar em seu colo e pousava sua mão em minha coxa. Eu o cercava com meus braços e vez ou outra acariciava seu cabelo. Poderia ficar ali para sempre sem reclamar.
    Quando havia conversa, só sua voz aparecia. Falou mil e uma vezes sobre um futuro nosso, não tão distante assim. Nos levou para a Europa, para a América do Norte e uma vez até disse que iríamos para um lugar excêntrico, só por ir. De um apartamento em frente a praia, você nos mudou para um maior no centro da cidade. De um relacionamento casual, nos transformou em marido e mulher. Com filhos, cachorros e uma casa no campo para passar as férias.
    Agora era tudo distante, tão distante quanto o futuro que você desenhou para nós. Nunca dei importância aos seus planos. Na verdade, não sentia que isso iria acontecer comigo algum dia. Até ontem, eu era só uma garota egoísta e sozinha vagando pelo mundo. Aí você chegou, adicionou sua vida à minha e criou planos para nós. Hoje posso entender o quanto eu estava envolvida neles, só depois que você apagou todos os rascunhos antes de torná-los reais.
    Deitei na cama, enrolada no cobertor que ainda guardava seu perfume. Talvez fosse alucinação minha, mas ele estava em todos os lugares por onde você passou. Eu te sentia, mais por dentro que por fora. Meu coração ainda batia acelerado só de escutar seu nome. Ou de te ver na padaria, comprando os mesmos cinco pães “bem torradinhos”. Abracei o travesseiro querendo sentir não só seu cheiro, mas você.
    Eu nem sei mais quanto tempo se passou até, finalmente, dormir. Nos meus sonhos, lá estava você. Como sempre, o protagonista das minhas histórias e devaneios. Enquanto acariciava meu rosto, dizia que estava tudo bem. Que nossos planos seguiram em frente, no mesmo caminho. Era como se você tivesse razão por alguns instantes. Pelo menos até eu acordar e perceber que os rascunhos ainda permaneciam intactos. Parados. Intocados. E sem previsão de deixarem de ser apenas esboços.
  • Meu lugar favorito no mundo

    Você chegou em um momento que eu não sabia bem onde eu estava. Meu caminho seguia a mesma direção há anos e por muito tempo eu não encontrei uma curva, algo para sair do monótono. Sempre permaneci na mesma estrada, à procura de tudo e de nada ao mesmo tempo, sem saber se deveria parar ou seguir em frente.

    Parei.

    E aí você me encontrou.

    No fundo da estrada, te vi chegando aos pouquinhos. De começo, era como se algo te ofuscasse, o suficiente para te manter longe – de mim e daquela barreira que criei. Eu estava fechada, trancada, e meu coração permanecia silencioso por tanto tempo que, em alguns momentos, tive medo de não escutá-lo mais.

    Você enfrentou minha falta de atenção, minha barreira e meu medo de me arriscar. Enfrentou a escuridão em que eu me encontrava e, aos poucos, me convenceu a dar uma nova chance para a claridade. Eu não tinha muita certeza de onde ela chegava, mas gostava da sensação de senti-la em minha pele, senti-la pertinho de mim.

    Eu gostava da sensação de ter você por perto, conversando sobre nada, conversando sobre tudo. Foram conversas até 2h da manhã e posso jurar que, em uma dessas madrugadas, a gente pegou no sono depois das 5h. Você estava ali, a um clique de distância, e ainda assim me trazia conforto. O que era? Não sei.

    Mas acho que descobri.

    Você fez mais que me trazer de volta a luz. Fez mais do que ajudar a derrubar aquela barreira que me impedia de dar uma chance aos meus sentimentos. Fez mais que tudo isso. Você foi a razão de tudo isso. Eu saí da minha zona de conforto, mas a reencontrei em você. Primeiro, nas suas palavras. Depois, na sua presença. E, um pouco mais tarde, nos seus braços.

    Vi meu sorriso mudar, meus olhos ganharem brilho e até posso jurar que dei vida a algumas borboletas no estômago. Senti minha mão soar de ansiedade e senti meus braços procurarem por você, também. Senti falta do seu sorriso, do seus lábios e até do seu jeito de me deixar com raiva. Posso dizer que encontrei em você o meu lugar favorito no mundo.

    E, ó, eu poderia ficar nele para sempre.

  • Minha música favorita

    Eu sempre adorei música. Sempre. Era como se nada fosse tão completo sem uma trilha sonora para marcar o momento. Eram as canções que davam magia às lembranças, quando fosse pensar nelas lá na frente. Cada ritmo, cada letra e cada voz não eram só um conjunto que formava uma nova música. Para mim, eram bem mais que isso.

    Aí eu conheci você. 
    Você chegou em um momento onde eu nem me importava muito com a canção naquele instante. Não porque você estava nele. Mas, sim, porque minha vida estava indo por aquele caminho do tanto faz. Você chegou como aquela música que, de começo, é só um barulho no carro e que, de repente, estamos sussurrando o que achamos ser a letra. Aí ela entra na nossa playlist, no nosso iPod e, principalmente, no nosso coração.
    Você foi como uma música nova em uma tarde gelada e qualquer. Foi como aquela música que no começo parece sem sentido, mas que só o ganha depois de prestarmos muita atenção na letra. Foi como aquela música em outro idioma, que de começo só o ritmo causa boa impressão. Aí fui ler a canção traduzida e me surpreendi.
    Isso foi o que você significou pra mim na primeira vez que te vi. Que te toquei.
    Esse momento não tem uma trilha sonora. Nem este, nem todos os que já compartilhamos. Na verdade, me arrisco a dizer que você é a minha música favorita. Quando lembro de nós dois, não me lembro de nenhum cantor, nenhuma banda e nenhum som. Só de você.
    Você é a minha canção favorita de todos os tempos. É aquela canção inexplicável que, como diria o livro As vantagens de ser invisível, me faz sentir infinita. Você é aquela canção que só faz sentido para mim. Que é linda – de som e letra – e que, em qualquer momento lá na frente, vou me lembrar e assoviá-la por ai. Não só com a boca. Não só com as lembranças. Não só com o cérebro.
    Mas, querido, com o mais importante: o coração.
  • Quinze

    Confesso: até hoje sinto falta dos quinze. Sei lá. Parece que foi minha melhor idade. Ou, pelo menos, a que mais deu certo. Em tudo.
    O coração estava calmo. Em paz. Tranquilo. Completo. A aparência eu prefiro nem comentar. Eu tinha o cabelo mais curto e era loira. Ou melhor, quase. Um ano antes fiz a besteira de fazer luzes. Ah, vai. Quem nunca? Histórias sobre erros no cabelo fazem parte de qualquer passado feminino. Não é?
    Eu cabia direitinho nas calças número 38 que ficaram anos no fundo do guarda-roupa à espera de que, um dia, eu voltasse a entrar nelas. Quatro anos depois, duas numerações a mais, desisti. Vão para doação.
    Parte física de lado, os quinze foram especiais. Eu fazia parte de um grupo legal de amigos na escola. Tinha boas notas. Comecei a não suportar matemática. E a amar português. Queria ser web designer. Descobri a paixão pela escrita. Tinha fake. Descobri a paixão por fotografia. Ah, 2009…
    Mais que tudo isso, os quinze foram tão especiais quanto a ansiedade de ser princesa por uma noite. E ter um príncipe. Ou um sapo fantasiado de príncipe. Mas que, na época, ganharia a coroa de “cara da minha vida”. Ok, foi. Por um curtinho espaço de tempo. Mas foi.
    Aí veio os 16. Passo. Os 17. Passo. Os 18. Passo. Entrei nos 19. Daqui menos de um ano, completo os dedos dos pés. Aí volto para as mãos. Haja dedos.
    E ainda assim, cá estou eu falando do passado. É, dos quinze. Saudade é pouco perto do que sinto. Sei que vão pensar que é por alguém especial. Mas não. É tudo. A agitação de ir para a escola. De rever pessoas importantes. De voltar no ônibus com uns cinco amigos legais fazendo alguma palhaçada. Da falta de tantas responsabilidades. E, quer saber? Até das bronquinhas dos pais eu sinto falta (e tenho que confessar que elas foram muitas nessa época).
    Depois dos quinze (não, não é o blog, tá?) tudo mudou. Alguns exemplos? Vou voltar um pouquinho no texto e dizer os mesmos. O coração está vazio. Solitário. Cheio de buraquinhos, como diria uma música das Chiquititas. As notas são baixas, tão baixas que a Juliana dos 15 odiaria só de pensar. Matemática se tornou só uma matéria que tive na escola um dia. Web designer virou um hobbie e não uma profissão. O loiro se foi. O cabelo mais curto, também. Paixão pela fotografia e escrita, ok, continuaram. Pelo menos algo, né?
    Voltando… Depois dos quinze vieram as responsabilidades. Principalmente aos 18. Engraçado. A gente pensa que, até essa idade, tudo vai ser só diversão. Ou, pelo menos, grande parte do tudo. Valorizamos mais a mesada do que o esforço dos pais para gerá-la. Valorizamos mais a quantidade de caras que ficamos do que aqueles que, realmente, fizeram alguma mudança. Valorizamos mais a quantidade de amigos do que a intensidade de cada um. 
    Hoje vejo que nada disso era tão importante. Sinto falta de cada momento e cada pessoa que significou algo, não pela quantidade que elas foram, mas pelas marcas que deixaram. Os caras que conheci pouco importam perto daquele que, algum dia, vai fazer alguma mudança. Dinheiro é algo que, agora sim, entendo o valor. Não porque passei uma semana guardando o troco do lanche. Mas, sim, porque passei um mês trabalhando – e depois vejo tudo voar quando as contas chegam.
    É como se, aos quinze, tudo ainda fosse só sonhos. E hoje, quatro anos depois, tudo fosse… Tá, sonhos. Mas com os pés mais grudados ao chão. Talvez essa seja a vida de adulto que tanto falavam. E que a gente só entende quando estamos dentro dela. 
    Bem vinda à vida de gente grande. 
  • Completo

    Uma vez li em algum lugar que nós somos completos. Somos completos porque temos uma casa, uma família e um cachorro. Somos completos porque temos amigos, estudos e condições para viver. Somos completos porque temos nossa aparência, nossa essência e nosso jeitinho de ser. Somos completo com tudo o que temos. E só.
    Quer saber? Acho que nós somos mais completos ainda por não ter algumas coisas. Estranho? Sim, eu sei. Mas explico. Não ter alguns bens me faz querê-los e lutar para tê-los. Não ter alguns sentimentos, momentos e lembranças me faz querer lutar para consegui-los. Tudo isso faz parte do que sou. Tudo isso me faz sonhadora, me faz correr tanto atrás dos meus desejos e me torna única. E nem por isso sou incompleta. Pelo contrário.
    Não ter tudo é uma característica que também me define. Hoje, por exemplo, meus maiores sonhos são, entre muitos, conhecer Londres e escrever um livro. Quando realizá-los, ainda terei muitos outros para ver acontecer. Cada caminho que passo, eu realizo um desejo. E ganho mais uns dez.
    E por aí vai. Ganhando sonhos aqui, ganhando memórias ali. Sentindo-se completa com alguém, e depois sentindo-se vazia sem esse alguém. E nem por isso se sentindo incompleta. Entendem?
    Os vazios e as faltas fazem parte de tudo o que somos. Quando se preenche um vazio, ganha-se (ou descobre-se) alguns mais. E cada vez que mergulhamos em um, aprendemos alguma coisa, que acabam mudando nosso ponto de vista, nossa maneira de pensar e várias, várias outras coisas dentro de nós.

    Eu acredito que nós vivemos em uma eterna mudança. Cada dia é responsável por algo novo que adquirimos ou jogamos fora, seja um bem material ou até uma característica. Sempre estamos sujeitos a mudar em todos os sentidos. Seja o estilo de se vestir, o jeito de falar, o grupo de amigos, o que “ser quando crescer”… Tudinho. 

    Nós somos completos com tudo o que temos. Sim. Não nego. Mas o que não temos também nos completam, porque nos dão características únicas. Tudo o que temos a conseguir são sonhos próprios, só nossos, e que nos tornam do jeito que somos. Somos completos pelo que possuímos, mas somos completos pelo que (ainda) não. Pelo menos é assim que vejo tudo.