Antes de começar, eu já quero que você entenda: blogueiro é profissão. Sei que pode rolar diversas discussões sobre a afirmação, mas é verdade. Eu até brinco que nós somos uma mistura de jornalista, publicitário, social media, fotógrafo, produtor/editor de vídeos e, muitas vezes, administrador. Afinal, um blog é uma empresa. Muitos até já possuem CNPJ, funcionários e tudo.
Estamos entendidos até aqui? Beleza. Podemos continuar.
Quando você pensa em um trabalho, o que vem em mente? Local, atividade e, claro, remuneração. Todo trabalho merece ser remunerado. Uma empresa não contrata um funcionário e o paga com produtos ou serviços oferecidos por ela, certo? Imagina se você trabalhasse em uma produtora de sorvete e recebesse por mês uma quantidade referente ao “salário”, mas em sobremesa. Pode parecer maravilhoso, porém 1) sorvete não paga conta e 2) ninguém pode viver se alimentando apenas de sorvete.
Então por que com a blogosfera é assim que funciona?
Vocês já perceberam a quantidade enorme de empresas que “pagam” o trabalho da blogueira com produtos e serviços? Não estou falando daquelas que enviam presskits de forma “espontânea” para a dona do blog, pois é outro foco. Mas sim daquela marca que entra em contato e oferece um valor X de produtos (escolhidos por ela ou pela blogueira) em troca de um post ou banner no blog.
É errado? Talvez não para você que está começando agora na blogosfera e não vê a hora de receber um mimo. Ou para você que entrou nesse mundo apenas para isso. Mas para nós, que levamos a sério essa profissão, é uma forma de desvalorizar a classe. E eu explico o motivo.
Primeiro de tudo: nós somos trabalhadores. Nós somos profissionais. Pagamos internet, energia, telefone, ferramentas para produzir conteúdo (câmera, computador, tripé, etc), além de outros gastos para manter o blog funcionando (domínio, hospedagem e design). Essas coisas só funcionam à base de dinheiro, infeliz ou felizmente. Quando você aceita um produto em troca do seu trabalho, você está afirmando para a empresa que se vende por pouco. E outra: ainda leva todo mundo junto na desvalorização.
Estou dizendo que você só deve postar em troca de dinheiro? Claro que não. Mas também não se venda por pouco. Não troque suas horas de trabalho por um batom (ou qualquer outro produto). Cobre. Mesmo que seja pouquinho, cobre. Se está no começo, se preocupe primeiro em produzir conteúdo e só depois pense em parcerias. Entenda que um espaço no seu blog vale muito mais que o produto que será enviado. Acredite: você tem um alcance que nem imagina. E a empresa se beneficia com isso – afinal, o “mimo” sai muito mais barato para ela do que pagar uma publicidade em si.
Segundo: não seja uma profissional ruim. Nós temos esse tipo de profissional em todas as áreas, desde as mais simples até as mais valorizadas. Toda essa teoria que blogueira só quer produtinho começou, na maioria, por nossa culpa. Muitas aceitaram trabalhar em troca de presentes ou serviços, afinal até pouco tempo atrás a blogosfera nem era considerada trabalho. Mas hoje é diferente. Nós precisamos nos unir para valorizar o que somos. Duvido que a marca pague uma agência de publicidade ou uma emissora de TV com produtos. Por que conosco, que faremos o mesmo serviço (divulgar), é diferente? Vocês entendem a força que tem?
Vale ressaltar que eu estou citando aquelas marcas que enviam produtos em troca obrigatória da divulgação. Aquelas que enviam seus presskits espontaneamente fazem isso para que as blogueiras conheçam seus lançamentos. Se ela quiser divulgar, é outro assunto (geralmente já fazem isso nos vídeos de recebidos).
Um blog é um veículo de comunicação assim como a Globo, o G1, a Folha de S. Paulo, a Capricho e tantos outros formatos. Nosso alcance chega até a ser maior por ser ilimitado. Nosso conteúdo está aí na internet para qualquer um ver. O que eu quero com esse desabafo é alertar a importância que vocês, blogueiros, tem no mercado. Não se menosprezem, não se humilhem e não se vendam por pouco. Sejam profissionais. Afinal, nós precisamos mostrar que é o que somos.
E vale lembrar que as empresas só nos tratam assim porque nós aceitamos.
Portanto: converse com a marca. A divulgação não pode nem deve ser benéfica só para um lado. Ela quer enviar um produto? Ok. Mas explique que não é certeza que será divulgado. Se ela insistir, diga que cobra e, mesmo assim, só posta com sua opinião sincera. Vamos tirar essa imagem que as pessoas têm das blogueiras. Nós queremos chegar nas empresas sentindo orgulho do que somos, não achando que seremos menosprezadas porque estamos ali apenas pelo mimo.
Queria completar que este desabafo nasceu após a Conferência Nacional de Blogs (CNB). O evento contou com diversas exposições de marcas, muitas boas, inclusive. Porém, algumas mal explicavam seus lançamentos. Chegávamos ao stand e só nos davam a sacolinha com alguns brindes (na maioria amostras). Ou seja: “toma aqui seu brinde, você não precisa entender o que é, só posta no blog e manda o link para nós”. Oi? Nem o básico, que era explicar o que faz o produto, composição e objetivo, eles queriam nos passar.
Quando a empresa chega a esse ponto, sabemos o quanto mal vistas nós somos pelo mercado. E mudar esse cenário só depende de você, blogueiro. Valorize-se. As marcas sabem muito bem nossa importância. Se não soubessem, não estariam pedindo divulgação em nossos blogs. Elas sabem o quanto valemos. Só não querem pagar porque nós aceitamos qualquer coisa que oferecem.
Portanto, fica o exercício: se valorize. Combinado?
8 Comments
Ameii esse post! estou começando agora, e seu texto me preencheu de conselhos maravilhosos!
http://blogumadamageek.blogspot.com.br
Que legal, Lu! Fico feliz de ter ajudado <3
Falou e disse Julie, realmente é uma situação que só vai mudar quando todos acordarem para vida.
Oi Julie,
Acho muito interessante quando você faz esse tipo de post.Concordo com o que você falou,se a própria blogueira(que sabe de todo o processo que envolve um post/vídeo) não se impõe e mostra o valor do seu trabalho como vai obter os resultados por isso?
E outra,quando indica um produto as pessoas o adquirem por confiarem em sua opinião e isso deve estar em primeiro lugar.Por respeito aos leitores e ao próprio trabalho.
Falou tudo, Su! Só a gente sabe quanto vale nosso trabalho. E se vale um produto, então há algo errado aí, né? A empresa não vai te falar “olha, você está cobrando pouco, se valorize”. Pra ela vale a pena. Até porque se o produto custa R$ 20 pra comprar na loja, eles pagam R$ 10. Então nem o valor do produto na loja é o que estamos sendo pagas…
Oi Julie! Me senti da mesma forma na CNB, tudo bem que algumas empresas se deram ao trabalho de dedicar um tempo pra apresentar os produtos pra gente e montar uma apresentação legal, porém algumas me decepcionaram sendo que só deram um brinde sem nem explicar a marca e nem as novidades, quando perguntei sobre o produto, disseram que tinha um folder na sacola explicando tudo. Chato né? Concordo muito com o seu texto. Beijos!
Siim, Raquel! Também tava complicado por ter muita gente, né? Não tinha nem como ouvir o que falavam, às vezes. Acho que foi erro dos dois. O espaço tava bem complicado e tinha muita gente. As empresas precisavam ter feito um jogo de cintura também, pelo menos pra explicar ><