Esse é um daqueles posts-desabafo que há muito tempo eu não faço aqui no blog. Sem técnicas de SEO, sem preocupação se as fotos estão combinando e sem aquela neura de ficar tudo perfeitinho. Não que eu esteja desleixada. A verdade é que ontem eu vi uma imagem que representa muito a blogosfera das antigas e desde então estou pensando muito sobre isso.
E cá estou eu para compartilhar meus pensamentos com vocês.
Como sabem, eu comecei na blogosfera no final de 2005. Caí no Zip Net (plataforma super simples da Uol) sem querer, pois meu objetivo era, na verdade, criar um site. Eu só queria um espacinho para chamar de “portal” e falar sobre minha banda e novela favoritas: RBD e Rebelde. Para mim era algo inovador, afinal eu não conhecia nenhum site com esse objetivo. Você vai me dizer: mas Julie, existiam vários. Sim, com certeza existiam. Mas naquela época eu era apenas uma garotinha de 11 anos com uma internet discada e sem muito conhecimento com relação a web, Google e essas coisas.
Na minha cabeça eu era a primeira e tudo bem para mim.
Então fiz meu e-mail na Bol (era necessário para criar a conta no Zip Net) e lá fui eu escrever as primeiras postagens. O blog se chamava RBD Brasil Oficial e os posts eram simplesmente comentários sobre a novela. Lembro até que tirei foto de uma revista e contei, achando ser em primeira mão, que a personagem Lola iria tingir o cabelo de ruivo (igual da Roberta) para impressionar o Diego. Todo mundo que comprou a revista já sabia. Eu mal tinha leitores. Mas lá estava eu, na inocência e com o carinho de postar, informando as boas novas.
A blogosfera, na época, era pura curtição. A gente escrevia só por passatempo, mesmo. Eu nunca ganhei um centavo com meu blog simples hospedado no Zip Net. Mas ganhei muitas outras coisas que, para mim, são bem mais importantes.
A internet há 10 anos não era como hoje. Não havia muito conteúdo e encontrar algo específico era bem complicado. Euzinha, com a internet e o conhecimento limitados, mal conseguia achar um tema para o blog que fosse do RBD. Novamente: havia, sim, vários por aí (que só descobri mais tarde). Mas, ó, ainda bem que eu não dei de cara com eles.
Foi nessa dificuldade de encontrar um tema adequado para o meu “site” que eu comecei a pesquisar como fazer um. O Zip Net, na época, era praticamente o que o Blogspot é para nós hoje em dia (só que muito mais limitado). Havia uma quantidade considerável de artigos sobre a plataforma, pois era a primeira que nós, blogueiros, procurávamos para criar nossos cantinhos. Existia o Blogger, mas este era somente para assinantes da Globo. Na época, poucos queriam pagar por algo na internet, né? Ah, e também havia o WordPress, mas a maioria considerava complexo demais para fazer qualquer coisa.
Encontrei diversos sites que ajudavam a criar layouts para o Zip Net. A linguagem era basicamente HTML e CSS, mas com alguns códigos próprios (assim como todas as plataformas possuem). O blog que mais me ajudou foi o Cristiny Online (não existe mais, mas vocês podem vê-lo neste site arquivo). Para vocês terem uma ideia: ela tinha uns três blogs para manter o domínio no ar. Explico: um era o endereço em si, outro para colocar os arquivos grátis e outro de postagem que era inserido na área de posts do blog. Louco, né? As coisas na época não eram nada fáceis.
No Cristiny Online eu encontrei um tutorial explicando como fazer o tal template. Além de ensinar como fazer, ela ainda disponibilizava vários modelos para você escolher, já com código prontinho, e só alterar as imagens (no caso, do topo e fundo). E a aparência dos blogs não era como hoje, viu? Vou deixar uns modelos para vocês entenderem os “looks” famosos da blogosfera na época.
Links para conferir ao vivo: Pétalas da Emoção | Coração Rosa | Mundinho Rê Lua | Concurso RBD Brasil Oficial (um dos meus blogs haha)
E lá fui eu colocar a mão na massa para criar meus templates do RBD. Foi nessa que eu descobri que precisava de um programa de edição de imagens. E nada de Photoshop. O computador (com seus humildes 120mb de memória, o que era comum na época) mal aguentava os programas básicos. Tive que baixar outro similar, o Paint Shop Pro. Ele era gratuito, muito parecido com o software da Adobe e quebrou um galhão (mas eu ainda queria o Photoshop original só para fazer um efeito na fonte que todo mundo na blogosfera fazia).
Depois que aprendi mais ou menos a mexer no Paint Shop Pro, lá fui eu para os códigos. Mal sabia o que um “b” entre <> significava. Aí descobri que era negrito. Depois itálico. Depois fui conhecer as divs. E por aí foi. Por que estou dizendo tudo isso? Simplesmente porque foi por não encontrar um template pronto do RBD que eu aprendi tudo que sei hoje de Photoshop e linguagens de blogs.
Hoje em dia as coisas são bem diferentes e, neste ponto, sinto dizer que infelizmente. Eu recebo muitos e-mails todos os dias de leitores ou visitantes pedindo para que eu faça o blog deles. Não oferecem um centavo, só jogam assim: Julie, faz um blog pra mim? Isso vale para outras modificações, como por exemplo: “Julie, edita tal foto pra mim?”, “Julie, faz um menu legal para mim?” e por aí vai.
O pessoal novo da blogosfera (não generalizando, mas uma boa parte) entrou neste mundo porque aqueles das antigas conseguiram algum destaque e disseminaram os blogs. Hoje em dia ser blogueiro é legal. Quando eu comecei, ter um blog era até motivo de vergonha. Ninguém queria os amigos, pais e familiares lendo sobre seus dias. Blog era um diário, por isso era mantido em segredo. Nós éramos e queríamos continuar sendo anônimos. Tanto que, no máximo, colocávamos nosso e-mail para contato. Nada de Orkut, MySpace e as redes sociais da época.
O que me entristece hoje em dia é ver “blogueiros” querendo tudo pronto. Pedem layouts, alterações de código, edições de imagem e até mesmo divulgação. A impressão que eu tenho é que perdeu-se o tesão de correr atrás das coisas. Ninguém quer ter que levantar para conseguir seu objetivo. Querem que traga, de bandeja, nas mãos.
E gente, isso é chato pra caralho – com perdão do palavrão.
Pode parecer texto de gente velha, mas eu sou da época que ou você aprendia ou você não tinha. Sou da época que você pedia para alguém lhe ensinar algo, não fazer para você. Sou da época dos fóruns de ajuda, das comunidades do Orkut e dos blogs cheios de tutoriais. Você não chegava no blogueiro e pedia para ele fazer algo para você. E nem reclamava do conteúdo disponibilizado. Você o agradecia eternamente por tirar horas do seu dia e fazer algo que não iria render nada para ele.
Porque blogosfera era assim. Você pelos outros, sem esperar nada em troca. E mesmo assim nós, beneficiados, tentávamos “pagar” linkando o blog que nos ajudou em nossas páginas. Não queríamos só o “vinde a nós”.
Não havia pagamento por nada e essa sinceridade faz falta hoje em dia. Não só no conteúdo, como nas amizades. O que eu vejo hoje em dia são pessoas fingindo algum sentimento para ganhar em cima de outra. Pessoas falando de qualquer coisa em seus blogs em troca de dinheiro. Conteúdo perdendo a qualidade porque não pensam mais no público, só no próprio umbigo.
Eu não vou me excluir do grupo que mudou. A blogosfera está em constante atualização. Vide os layouts que antes eram cheios de desenhos de menininhas e agora passaram para vários borrões de aquarela, design clean e sliders. E nós temos que nos adaptar a isso assim como nossos pais se adaptaram às novas televisões. O que estou dizendo é: cadê a essência? Eu tento levar o que aprendi lá em 2006 em cada postagem do Julie de Batom, mas com um toque da “atualidade”. Eu sinto muita falta de entrar em blogs e ler algo pessoal, resenhas sinceras e indicações de produtos de marcas que não pagaram para estar ali. Sinto falta de entrar em blogs que, pelo menos uma vez na vida, se importam em fazer um post pessoal, sem se preocupar em qual página estarão no Google. Isso é importante? Sim. Mas não deve ser único.
O que eu quero com esse post é dizer que nós somos a blogosfera. Nós somos a mudança. Se achamos que está ruim, que esse mundo está vendido e superficial, nós podemos mudar. Eu não quero expor uma vida que não é minha, cheia de ostentação e máscaras. Eu quero continuar com a mesma essência, ingenuidade (no bom sentido) e simplicidade daquela Juliana de 11 anos que parou na blogosfera porque queria criar um “site”. Com a vontade de correr atrás de seus desejos do mesmo jeito que foi aprender como criar layouts, imagens, gifs com estrelinhas e códigos.
E quero contagiá-los também.
Se você leu esse texto completo, te faço um pedido: seja sincero. Seja honesto. Seja você. Não tente transformar seu blog em algo que ele não é. Não seja umbiguista. Ganhar dinheiro e mimos é legal? Sim, claro que é. Mas crie seu conteúdo pensando no público, nunca em benefício próprio. Seja como a Cristiny Online, a Vicky’s Place, a Evelyn’s Place (sim, é a mesma do É do Babado) que por anos criaram conteúdo só para ajudar o próximo. Só para oferecer algo que nem todos poderiam ou saberiam criar.
Ainda em tempo: quero dizer que eu sou super a favor do blog virar um veículo de comunicação, do criador de conteúdo ganhar dinheiro, pois, sim, é um trabalho (e dá tanto trabalho como qualquer outro). O que estou salientando no post é que a blogosfera não é apenas grana, mimos e ostentação. Sinto falta da essência de antigamente, de você sentir carinho, amor e dedicação em cada página. E não interesse, sabem? Se misturar o carinho pela blogagem e a profissionalização dos blogs, tudo seria melhor.
Por essa simplicidade, sinceridade e autenticidade, a blogosfera vota – e implora por – sim!
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