Tag: conflitos internos

  • Só mais um texto escrito em dias ruins

    A vida é um pé no saco quando nada dá certo. Os textos da faculdade saem uma bosta, o trabalho não dá mais tesão e as lágrimas se tornam tão rebeldes que decidem abandonar o lar. Eu poderia até resumir todo esse momento em três letras se meu período não estivesse tão longe de acontecer. É foda, eu sei. 

    Nunca disseram que a vida seguiria no modo easy, mas me senti abandonada por não receber o manual. Jogaram o controle na minha mão e não se preocuparam em me passar as funções de cada botão. Entrei sem querer em um jogo mais complicado que aquelas equações chatas de Matemática do Ensino Médio. E não sei nem por onde começar a resolvê-lo.
    O jeito é fazer o de sempre: apertar todos os botões juntos e torcer para ativar algum poder especial. Sabe, nem precisa ser muito longo. Aceito, de bom grado, só algo que distraia as coisas ruins por alguns segundinhos. Pelo menos o suficiente para recompor minhas forças e seguir na próxima fase.
    Talvez seja só drama ou um momento ruim. Um jeitinho da vida ensinar que tudo tem seu lado bom. Disseram que o importante é não desanimar e continuar tentando. Treinar sozinho as partes do jogo enquanto não se sente preparado para enfrentar o chefão. Passar a madrugada inteira procurando sair daquela fase e sentir que, mais que dedos doloridos, você adquiriu forças e macetes. Entre erros e acertos, descobrir que o amarelo e o azul podem te ajudar a passar por aquele obstáculo. Ou que uma combinação diferente de botões é ainda melhor que um só.

    Só não seja egoísta e não queira fazer tudo sozinho. Tenha controles extras e permita que outras pessoas te ajudem. O mérito não precisa só seu, você pode dividi-lo com quem você ama. Uma coisa eu aprendi nesses últimos tempos e levo como lição: em grupo fica bem mais fácil, gostoso e divertido. Vai por mim.

    O que vale é lembrar que sempre haverá um amanhã. O jogo continuará ali, só te esperando tentar de novo. As fases são inúmeras e você só vai conhecer a última no tempo certo. Enquanto isso, paciência e controle na mão. A vida te espera para tentar um pouquinho mais. Sem desânimo, tá? Quando chegar lá, vai ver o quanto valeu a pena. Sempre vale, afinal.

  • No que você está pensando?

    “No que você está pensando?”. Essa é a primeira pergunta que leio ao abrir a página inicial do Facebook. Que perguntinha mais complexa para se responder logo de cara! Afinal, quantos pensamentos passam por nossa cabeça durante as 24 horas do dia?
    Ao acordar eu poderia ter respondido ao Face que, caso eu encontrasse uma lâmpada mágica e um gênio me oferecesse três desejos, com certeza permanecer na cama seria um deles. Cochilar por mais eternos cinco minutinhos é o que todo mundo pensa quando o despertador enche o saco, digo, toca. Meu sono é como a zoeira: não tem limites. Às segundas-feiras é ainda pior por ser o começo de mais uma semana cheia de trabalhos, prazos e estresse. Quem acorda feliz, por favor, me passa a receita aí.
    Três minutos depois meu pai já estava me chamando pela décima vez. Senti falta da manhã de domingo, quando acordei com sussurros e não gritos. Suspirei. Um “eu te amo” é bem melhor que “você está atrasada”, apesar de não estar. Ta bom, admito. Queria meu namorado por perto de novo #loveisintheair.
    Uma hora mais tarde eu poderia responder ao Facebook que as lojas de São Vicente me deixaram decepcionada. “Como assim não encontrei um terninho por aqui?”, eu responderia à pergunta com outro questionamento (“somente um idiota responde uma pergunta com outra”, diria o Seu Madruga). Em resumo: acordei cedo para nada. Meu sono se sentiu ofendido.
    Chego à minha mesa do estágio e começo a fazer o clipping. “Segunda-feira é o pior dia”, eu diria ao Facebook, cuja janela abri no modo anônimo. “Onde clico para o Photoshop fazer tudo por mim? #Fikdik para a galera da internet inventar um aplicativo mágico que facilite a vida dos estagiários”. Obrigada, de nada.
    Olho para o relógio e já são 16h. Acabei de finalizar duas descrições literárias para a disciplina de Estudos da Linguagem. “Adivinha quem deixei tudo para a última hora? Mas como dizem… Antes tarde do que nunca.”, responderia ao Face.
    Finalmente, chega minha hora de sair do estágio. “Kd aquele Big Mac com três hambúrgueres agora? #gordinha #fitnessnãomerepresenta – se sentindo esfomeada”, eu postaria se meu 3G não fosse tão lento. E ainda colaria o link da paródia “Tô sem sinal da Tim”. Essa me representa.
    Algumas horas mais tarde, eu faria parte do grupo revolts das redes sociais. Não xingaria muito no Twitter porque agora ele não se importa com o que penso. “Gente que insiste no erro… Ninguém merece! #falomesmo”.
    Quase no final da noite, meu pensamento se resumia a TPM que insiste em me fazer companhia. Quer dizer, ninguém merece terminar o dia de mal com quem mais ama. “Hoje tá fácil prazinimiga – se sentindo chateada”.
    Já passa da meia-noite, mas para mim o dia só termina quando durmo. O relógio avisa que são mais de três da madrugada e até uma hora atrás eu não tinha ideia do tema desta crônica. Aí abro o Facebook e leio a frase que me acompanha todos os dias. Estava pensando em desistir. Agora…
    “Juliana Duarte está se sentindo com inspiração”. Valeu, Markinho!

    *Esta crônica foi escrita para um trabalho da faculdade. As meninas do grupo Julie de Batom no Whatsapp gostaram bastante e resolvi postar. Bom, está aí 🙂

  • Minhas lembranças de você

    Que droga de mania que a vida tem de testar a gente. Ela traz e leva lembranças com uma facilidade incrível. Aí vem a saudade… As vezes, aparece depois de uma música. Ou de um texto. Ou de um encontro casual. Ou de tudo. Vira bagunça, vira confusão. Vira ferida.
    É, cara. Lembrei de ti outro dia desses. Não de como te vejo agora, andando na rua como se eu fosse só mais uma entre tantas. Mas do jeito que eu te via antes. E do jeito que você me via antes. Sendo a única. A “é ela”. Acho que você já esqueceu disso tudo. 
    Eu tenho essa mania boba de escrever sentimentos. E escrevi tanto sobre você (e sobre nós, é claro) que não consigo te deixar ir. Pelo menos, não nas lembranças. Você aparece nas músicas da sua banda favorita quando eu insisto em escutá-las. Você aparece nos textos do meu antigo blog quando não tenho o que fazer e começo a reler tudo o que já escrevi. Você aparece na conversa quando encontro algum amigo seu. Você aparece até nos lugares mais estranhos que já visitei. Preciso dizer que minha cabeça é uma delas? Espero que não.
    Lembro de você quando seu sorriso era motivo do meu. E vice versa. E vice versa de novo. Lembro de você quando o dia era perdido se não tivesse, pelo menos, um SMS novo. Lembro de você quando a sorveteria era nosso ponto de encontro. Lembro de você quando trocou de óculos e eu dei risada do seu novo look. Lembro de você quando minhas amigas riam de nós. Lembro de você quando brigou com o garoto da sala que me machucou. Lembro de você quando ficou todo fofo ao me escutar cantando em inglês. Lembro de você quando não era um estranho. Quando não era só um cara do passado. Lembro de você quando era o único.
    Outros caras apareceram depois, assim como outras “elas”, depois de mim, chegaram em sua vida. Outros caras pareceram que seriam os únicos. E, assim como você, não foram. Outros caras quase tiveram meu coração como você o teve. Mas não foi tão fácil depois de você. Sabe, primeiro amor sempre marca, principalmente quando é tão forte. O sentimento já se foi, mas as lembranças ficam. Não porque é você, mas porque, um dia, foi alguém. Coração maluco. Não te ama mais, mas se recorda de tudo que passou.
    É, cara. Lembro de você com mais detalhes do que eu poderia imaginar. Mas lembro de você, acima de tudo, sendo aquele garoto amigo de uma amiga de infância que, no primeiro dia de aula, virou um contato no MSN. Que, na semana seguinte, já era protagonista dos meus sonhos e histórias. E que, hoje, faz uma falta danada. Não do mesmo jeito de antes, é claro. O mundo dá voltas e a vida muda toda hora. Mas sinto saudades das nossas conversas descontraídas. Acima de tudo, nós éramos amigos. E é isso que mais me dá nostalgia.
    E eu prefiro deixar para lá o fato de que, agora, a gente não passa de amigos. Só que apenas no Facebook…
  • Meu ex

    Ele se foi há muito tempo. Na verdade, nunca mais o vi. Meu ex. E eu estaria mentindo se dissesse que não sinto falta dele. Sabe… A gente sempre sente (mesmo que não queira admitir). São muitos momentos inesquecíveis e muitas partes de nós que ficam para trás. Impossível deixar pra lá, assim, tão fácil.

    Desde que ele se foi, eu nunca mais fui completa. Perdi uma grande parte de mim quando tudo acabou. Sinto falta dos nossos momentos. Na verdade, sinto falta de sentir algo. Algo que não seja este vazio que ficou.

    Não faço ideia de como parei por aqui. Não lembro de nenhum olá e nenhum adeus. Ele apenas veio, ficou e se foi. Tão automático, tão… Sei lá.

    É como se nada existisse depois do final – ou seja lá como se chama isso. É como se nada fosse tão certo mas, também, nem tão errado. Só tanto faz. Qualquer coisa tanto faz. Acabou, não é?

    Eu estou sozinha. Sozinha. Sozinha como nunca estive em toda a minha vida. Ele se foi. Meu ex. Meu coração, meus sentimentos e qualquer afeto. Sinto falta disso tudo. Do ex, do coração e de sentir algo. Sinto falta da minha liberdade (até isso foi levado de mim).

    Eu só quero o tempo. O tempo e o que ele traz. Quero o alívio, o esquecimento e o recomeço. Quero meu ex de volta, mas também quero um novo. Cansei do antigo e tenho medo do que está por vir.

    Mas só de uma coisa eu tenho certeza:

    Quero de volta. Meu ex. Meu ex eu. Aquele meu eu antigo. Aquele meu eu sonhador. E, principalmente: aquele eu que acreditava no impossível. Hoje só restou este eu miserável, sem expectativas nem sonhos. Só esse eu vazio. Só esse nada. Só… Eu.

  • A vida que deixei para trás

    Não há um dia que eu não pense em você. As paredes a minha volta não servem só para me separar do mundo e me punir das besteiras que fiz. Elas também jogam na minha cara como fui idiota em te trocar por uma vida – ou o que eu achava ser uma – miserável e a base de nada. Nada. É… foi só o que me restou.
    A gente se conheceu em uma dessas baladas da vida. Você se aproximou e me pagou uma ou duas bebidas.  Sob o efeito delas, dançamos três ou quatro músicas. E, depois disso, foram cinco ou mais beijos.
    Lá em cima, o DJ cuidava para escolher a música perfeita naquele momento. Não reconheci nenhuma delas e até hoje me pergunto o nome daquela que marcou nosso primeiro beijo. Mesmo assim, é a nossa trilha sonora. Seja lá o que as letras significavam (você sabe que eu nunca fui boa em inglês).
    Depois disso, o tempo passou voando. Anel. Buquê. Vestido branco. Nove meses. Choros altos. Noites em claro. Mais dois pares de olhos brilhantes na casa.
    E agora, tudo o que eu queria era voltar, novamente, àquele nosso primeiro encontro.
    Eu só queria seu novo endereço ou número de celular. Queria te contar como as coisas desandaram por aqui.
    Você se foi. Levou junto meu coração, meus planos e uma parte grande de mim: nossa filha. Ainda escuto os choros dela em meus pesadelos injustos. Perdi você, perdi a dona dos olhos mais brilhantes que já vi e, principalmente, perdi a mim.
    Troquei nossa vida por um cigarro ou dois. Depois, troquei os cigarros por coisas mais fortes. De repente, eles viraram minha vida. Hoje entendo como fui idiota. Só queria te ter como destinatário para contar o que mudou.
    Já faz tempo que estou limpa. Limpa de tudo e, talvez, até do coração. Acho que o vendi por um pouco de alguma droga. Mas sei que você tem uma cópia perfeita dele. Volta pra mim e me ensina a viver de novo? Por favor.
    Sem vocês, não vejo sentido ter um futuro. Estou pronta para deixar este quarto e me aventurar a viver – de verdade, desta vez. Vem me buscar. Você sabe meu endereço, meu nome e até meu RG. 
    Vem e devolve nossa vida antes que eu desista da minha.
  • Hiatus de fim de ano

    Hoje foi um daqueles dias típicos de fim de ano. Organizei o quarto. Limpei a bagunça. Tirei o pó que estava embaixo da cama e encontrei aquelas coisas que a gente só encontra quando não precisa. Dei um fim na sujeira do quarto, do computador e da memória do celular. E por último: do coração.
    São nesses últimos dias do ano que eu me fecho para balanço. Coloco os prós e os contras dos doze meses que se passaram e separo tudo aquilo que vou deixar em 2012 e o que vou aprimorar em 2013. É nesta etapa do ano que esqueço as dores e dou prioridade às alegrias. É, também, nesta época do ano que deixo as lembranças tomarem conta. Não por saudade. Mas para ter certeza de que outros anos virão e elas vão permanecer em algum lugar de mim.
    A gente tem aquela mania de acreditar na frase “ano novo, vida nova”. Sabe, besteira. Como vi em alguma propaganda na TV, não é o último segundo do ano que deve definir o que vamos ser. Não é às 23h59min do dia 31 de dezembro que vamos escolher que personagem nós iremos dar vida nos próximos 365 dias. Essa escolha tem que ser feita a partir de agora. Neste segundo. Neste minuto. 
    Não é 2013 que vai mudar as perspectivas, nem os sonhos e nem as esperanças. A gente tem que parar de deixar pra amanhã – ou para o ano que vem – as mudanças que não temos coragem de enfrentar agora. Temos é que parar de sentir aquele frio na barriga ao usar nosso batom favorito. Ou aquela roupa que era tendência há um ano. Temos é que desistir do medo e, acima de tudo, deixar lá embaixo do baú tudo o que falam e pensam sobre nós. E aí, trancar com uma chave e jogá-la fora.
    Agora, para esses últimos dias de 2012, estou trancada. De tudo. Sentimentos, novidades e qualquer coisa que resolvi deixar para trás. Deixei alguns amores, poucos medos e mínimas dores em 2012. E ele pode aprisionar tudo isso. Para os próximos doze meses… Bom, ainda não sei bem o que quero. Mas, seja lá o que for, já preparo desde agora. E o resto, o resto eu decido assim que estiver pronta para sair do hiatus e encontrar o mundo. A realidade. E eu mesma.
  • Amor vazio

    Eu não sou uma daquelas pessoas cujo coração pode ser quebrado em mil pedaços e remendados tão fácil e rapidamente. Na verdade, invejo qualquer um que tenha esse dom – ou seja lá como chamam isso.
    O amor nunca foi justo comigo. Na última vez que nos encontramos, ele causou mais estragos do que eu poderia imaginar. Acho que, lá no fundo, nós não nos damos tão bem assim. É como se ele não fosse com a minha cara, simplesmente. De alguma forma, não fomos apresentados. Não da forma correta.
    Não é possível que meu coração continue sendo quebrado, pisado e torturado para, só depois de sofrer muito, encontrar um band-aid que funcione e não deixe vazar nem uma gota de sangue pelas bordas. É injusto que eu tenha que quase perder meu coração para, só depois, sentir que ele continua inteiro, intacto. Ou, de alguma forma, sem nenhum vestígio de dor.
    E ainda tem o tempo. As vezes, ele se torna mais injusto que qualquer outra coisa. Ele nunca está em sintonia com o que preciso e isso acaba com qualquer vontade de, simplesmente, amar de novo. Parece que, na minha vida, tempo e amor são sinônimos de desordem. Eles nunca funcionam juntos. Pelo menos, não como deviam funcionar.
    O tempo é quase imperceptível quando o amor se torna presente. Este some com a mesma leveza e facilidade com que chega e o tempo não é justo: faz o amor morrer aos poucos e rápido. Só o que permanece é aquele amor vazio, sem valor. Aquele amor que só há o sentimento abstrato, não o físico. E o tempo parece se dar melhor com este tipo de sentimento. É este que, afinal, deixa seus vestígios.
    Meu coração continua quebrado, dividido em mil pedaços nada iguais. As vezes, alguma parte some e volta com o passar dos dias. Em outras, nunca mais encontro. E eles se perdem aos poucos, sem nem uma chance de tentar reencaixá-los em seus devidos lugares. O vazio só se intensifica e os espaços ocos, multiplicam-se. E parece que o tempo (tão injusto) prefere prolongar-se nesse tipo de amor; aquele amor que não dura, que se torna só lembranças. Aquele amor que acaba com o coração. Que só deixa a dor, as feridas que não cicatrizam.
    E, ironicamente, o amor é a única solução para juntar todos os pedaços novamente, encontrar os que ficaram por aí e tentar, de novo, deixar esse sentimento ter o poder de fazer que eu tenha a sensação de voar. De que nada é impossível. Ironicamente, o amor se cura com… Amor. E tempo.
    Só não posso suportar ver meu coração se desmanchar em milhões de pedaços. Nem tentar remendá-los sem obter nenhum sucesso. Preciso ter certeza, antes de me jogar de corpo e alma mais uma vez, que o amor não vai me deixar vazia desta vez.
    E sim, de uma forma milagrosamente correta, cheia de vida, esperanças, sonhos e, claro, beijos quentes e momentos eternos.
  • Aquela despedida

    Você me deu seu melhor sorriso de despedida. Enquanto me abraçava, vi um vazio se formar no meu coração (ou, quem sabe, no lugar onde ele esteve um dia). Aquelas borboletas no estômago voltaram como na primeira vez que meus olhos encontraram os seus. E acredite… Fazia tempos que eu não sabia o que era me sentir assim.
    Seus braços se demoraram por alguns segundos em minha cintura. Meus lábios, de repente, ficaram secos e minha voz se escondeu em algum lugar que eu não consegui perceber. De repente entendi que, na verdade, eu nunca deixei de me importar com você. Com nós.
    Eu não estava preparada para um adeus, mesmo sabendo que ele não é definitivo. Nunca consegui me comportar bem em despedidas. Em todas elas eu fiz algo errado. E desta vez não foi diferente.
    Deixei seu corpo se afastar do meu e, aos poucos, nossa distância não era só física. Você disse algumas palavras e, momentaneamente, eu ignorei todas elas. 
    Percebi, tarde demais, que seus braços não estavam mais em minha cintura. Paralisada, assisti cada passo seu diminuir as chances de transformar o nosso adeus em um até logo. Não encontrei minhas forças para movimentar minhas pernas até você.
    Eu queria ter (cor)respondido melhor a todos os seus sinais. Queria ter dito que, assim como você, também vou sentir falta dos nossos momentos juntos. Eu poderia ter dito o quanto eu vou me lembrar de seus olhos a cada vez que olhar o céu. E, por último, eu deveria ter me jogado em seus braços enquanto pedia desculpas pela indiferença que tomou posse de mim nos últimos meses. 
    E ter confessado, então, o quanto de você ainda resta em mim.
  • A vida em foco

    Eu procurei por muito tempo. Vasculhei em todos os cantos. Meti-me por caminhos desconhecidos e me perdi tentando encontrar alguma coisa que fizesse tudo valer a pena. Dei muita razão para o amor e esqueci de aproveitar o que estava a minha volta.
    O tempo passou. Deixei o mundo me guiar e os sentimentos foram ao meu lado. Nas estradas que percorri, apenas consegui contemplar um borrão de várias cores que ficaram para trás sem ter nenhum sentido. Meus dias passaram a ser assim: desfocados. Como se eu tivesse perdido meus óculos há muito, muito tempo.
    Perdi a vida tentando encontrar um motivo para vivê-la. Deixei de ser feliz para encontrar a felicidade. Ou, pelo menos, o que achei que fosse a minha. Não aproveitei a tranquilidade das estradas e tampouco descansei da viagem sob uma árvore e sombra fresca. A vontade de terminar o caminho deixou-me por completo… Eu não queria mais chegar ao final. Agora a única coisa que importava era aproveitar os meios.
    Parei de procurar e comecei a me surpreender. Aprendi comigo mesma – e com todos os erros que cometi – a não criar expectativas. Aprendi a não achar que o amor estava nos lugares que pensei que estaria. Cansei de correr atrás dele. Comecei a esperá-lo e a deixar que, pelo menos uma vez, ele viesse atrás de mim. E com tudo isso (e mais umas feridas nos joelhos com tantos tombos) entendi que, quando as coisas aparecem ao acaso, elas são mais sinceras. E duram bem mais.
    Também passei a aproveitar cada minuto. Abandonei meus medos e preparei meus escudos. Passei a não me importar com as feridas. Pelo contrário: atribui uma história à cada uma delas sem me preocupar em curá-las. E sem me preocupar se eram machucados visíveis ou não.
    Tudo isso me ensinou que o tempo sempre estará certo e que, quando algo não é para acontecer, não adianta forçar. O destino sabe o que fazer com as escolhas que tomamos. É só depois de muitas lágrimas e muitos tombos que reconhecemos sua razão. E, consequentemente, é só depois de quebrar (muito) a cara que o tempo nos mostra do quanto ele nos livrou.
    E, assim, deixei de passar pela vida apenas com uma visão borrada dela. Ajustei meu foco, preparei meus sentidos, fiz as malas e saí por aí a procura de tudo o que perdi. Só que, desta vez, registrando tudo e sem deixar nada me escapar.
    Da autora: este texto foi escrito para o De Ponto em Conto, um blog criado por mim e mais três colegas da faculdade. A ideia é praticar tudo o que aprendemos em sala de aula. Então, vocês podem esperar por muitos contos, crônicas, textos e coisas do tipo. A equipe está bem diversificada e atende a todos os gostos. Espero que vocês passem por lá e confiram o que já postamos. Beijos, Julie <3
  • Cortinas – e máscaras – ao chão

    Incrível como pude ser tão trouxa a ponto de acreditar em tudo o que vi. Esqueci que, na verdade, nem sempre o externo é a versão oficial. Todos nós somos enganados, diariamente, por gestos, palavras e sinais, que conseguem ser tão falsos quanto quem se utiliza deles.
    Dizem que só o tempo e a convivência são capazes de definir alguém. Engano. Tempo não significa nada. Convivência não significa nada. Você é cheio de máscaras, cheio de caras diferentes e se abusou delas para me enganar. É como se você possuísse uma centena delas… Cada uma feita, especialmente, para envolver cada um que te cerca. E essa máscara criada sob medida, com meus gostos, com minha cor favorita e meus enfeites preferidos, me envolveu a ponto de nem me conhecer mais… Tudo feito para me prender e me enganar, me fazendo até duvidar daqueles que conheciam sua verdadeira face. Seu verdadeiro eu.
    É… achei que aquela era a sua única – e a verdadeira – versão. Quando, na verdade, você é apenas um personagem (com muitas máscaras) desse grande teatro que é a vida.
    Sua peça já está me deixando farta. Ela me enoja, não consigo mais assisti-la. Resolvi me levantar e ir embora… Não faço mais parte do seu público e me excluo do seu elenco. Quero o papel principal em uma história só minha. 
    Sua atuação foi ótima, mas o espetáculo em si é uma merda. Fique aí com seu roteiro, com suas falas e com suas farsas. Afinal, tudo já chegou ao fim: suas luzes se apagaram, sua cortina está no chão. E você, querido, foi pego. Trate de ensaiar melhor na próxima vez… Ou abandone seus personagens. Chega uma hora que a vida fica chata com tanta atuação, com tanta mentira. 
    Para todo caso… Aqui estão seus aplausos. Não por ter sido bom, mas por ter, finalmente, terminado essa porcaria. Espero que se sinta satisfeito e encontre outros tolos para apagar o brilho que você não tem. E lembre-se: na próxima vez que for mentir, assegure-se que não há espiões em seu público. Forme-o somente com pessoas burras e influenciáveis. Você me enganou, mas foi por pouco tempo. Agora, fique com o final dessa história mal escrita. Minha crítica foi feita, meu adeus foi dito. Mas o gran finale fica por minha conta: interferi em sua peça, modifiquei o enredo e descobri suas mentiras antes de me deixar levar. Então, chega… Essa merda acabou para você. E, principalmente, para mim.