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  • A garota da rodoviária

    Ela estava sentada em um banco da rodoviária, esperando o ônibus que a levaria para casa. Ela não queria voltar para seu quarto nada acolhedor. Era uma noite fria após um dia sentimentalmente frio, e ela se abraçava tentando livrar-se daquele vento gelado que pairava sobre sua pele. 
    A garota vestia um short jeans, um moletom antigo e milhares de sentimentos inexplicáveis. Alguns ela conhecia. Dor. Mágoa. Solidão. Ela olhou para os lados pela primeira vez. E se viu sozinha. Como nunca havia estado em toda sua vida.
    Mexeu no celular a procura de alguém com quem pudesse puxar uma conversa por SMS. Tentou criar coragem para dizer um “olá” àquela amiga que há muitas semanas não tinha contato. Escreveu uma mesma mensagem aproximadamente dez vezes antes de criar coragem para enviar.
    A coragem não veio.
    As lágrimas, finalmente, ganharam vida e percorreram todo seu rosto. Eram lágrimas solitárias, assim como a garota sentada em um banco da rodoviária. Ela olhou para o local onde seu ônibus deveria estar.
    Estava tudo vazio. 
    Ela nem sabia mais onde queria estar, e isso a aterrorizou. As lágrimas pararam de sair de seus olhos, e aquelas que insistiam em ganhar liberdade, a garota enxugou-as. Ela juntou as pernas e as colocou sobre o banco, abraçando-as. Sentido-se sozinha, como nunca esteve antes, com apenas uma pessoa como companhia. Ela mesma.
    A garota olhou para os lados, procurando um alguém que pudesse conversar e choramingar um pouquinho, contando os dramas que enfrentava agora. Eram tantos que ela nem saberia por onde começar. Todos intensos demais, misturando-se aos traumas que ganhara durante a vida inteira. Ela queria livrar-se de tudo aquilo que fazia suas lágrimas escorrerem por seu rosto, ultimamente. Mas não havia remédio. Não havia fita crepe que pudesse recolar seu coração, nem tornar inteiros seus sentimentos quebrados.
    Seu ônibus chegou. Ela juntou umas moedas perdidas na bolsa, subiu os degraus e entregou-as ao motorista. Antes de passar pela catraca, olhou novamente a rodoviária gelada. Em seus olhos, era claro perceber a vontade de sair correndo dali e pegar um transporte para outro lugar. Qualquer um.
    Assim que escolheu um lugar, encostou a cabeça no vidro e, de novo, visualizou todas aquelas pessoas felizes ao lado de fora do veículo. E antes mesmo deste dar partida, a garota deixou uma última lágrima cair. 
    Era um último sinal de fraqueza antes de vestir a máscara de “está tudo bem”.
  • Amor

    Esses dias, enquanto estava sentada no ônibus a caminho para a faculdade, me peguei pensando no que move tantas pessoas a acordarem cedo – quase de madrugada -, encararem um banho até em manhãs mais geladas e saírem de casa para trabalhar. Ok, muitos de vocês vão dizer que o culpado disso é o dinheiro, o capitalismo ou até que são as contas para pagar no fim do mês. Tá, por parte eu concordo. Mas minha teoria é um pouquinho maior e menos simples.
    Coloquei-me no meio de todos eles, porque é isso que a gente faz quando tenta entender o outro: se coloca na situação. Em 90% dos casos, adianta bastante. Deixando meus métodos de lado e continuando com o que interessa, repensei sobre o que me fazia acordar cedo, tomar um banho mesmo quando o tempo te pede para ficar sob os cobertores e entrar em um ônibus lotado. Faculdade? Não. Estágio? Não. Vontade própria? Na-na-ni-na-não.
    Amor. Taí a resposta.
    Vocês vão me chamar de louca, talvez. Mas tenho uma explicação para tudo isso, tá? Para entender, antes de tudo, esqueça aquele tipo de amor, digamos, romântico. Nada de beijo de língua aqui nem pegação. E, sim, amor, só ele por enquanto. Aquele sincero e que, as vezes, nem o percebemos por perto.
    O que quero dizer é que é esse sentimento o responsável por nos permitir fazer qualquer coisa. Da mais simples à mais complexa. Aliás, o amor nem deve dividir assim. Talvez ele tenha uma forma diferente de separar as coisas… Tipo “o que me faz feliz” e “o que não me faz feliz”. Quem sabe?
    A única coisa que posso dizer nesta teoria toda complicada é que o amor é o motivo de tudo. É o motivo de uma mãe acordar cedo só para comprar os pães que seus filhos vão comer antes de ir à escola. É o motivo de um cara trabalhar o mês inteiro para pagar a parcela daquele videogame que ele jura que nunca irá vender. É o motivo da garota popular da escola se esforçar tanto para continuar sendo “adorada”. É o motivo do universitário em acordar cedo o dia todo para ser, nas palavras dos pais, “alguém na vida”. Não importa qual é o motivo do amor: filhos, algo material, atenção ou sucesso. É amor.

    No meu caso, amor pelo pessoal da faculdade. Amor pela profissão de jornalista. Amor pela escrita. Amor por falar sobre pessoas desconhecidas. Amor por mostrar ao mundo um pouquinho do meu dia-a-dia, seja no jornal da faculdade, seja no blog. É amor. E dos sinceros.

    O que me faz concluir que é ele o que move tudo.
  • Pelo menos uma vez

    Ela era uma garota amargurada. Sozinha. Buscava nas palavras um jeito de esquecê-lo. Era seu refúgio. Ele. E escrever. Ela nem sabia por onde começar. Não só o texto da vez. Mas a vida. Sem ele.
    Já haviam se passado tantos anos. Talvez cinco ou seis. Mais da metade de uma década e o coração ainda não havia se curado. Que doença era essa, afinal? Se tinha cura, talvez sim. Mas dependia dela para começar o tratamento. Não adiantava forçar. A reabilitação não era fácil e precisava de uns beijos sem paixão. Uns caras que não queriam compromisso. Umas noites mal dormidas. Uns copos de uma bebida alcoólica qualquer.
    Ela tinha um caminho a seguir e, na primeira vez que tentara caminhar sozinha, esbarrou com o cara responsável por quebrar seu coração. Não em dois pedaços, mas em vários, se quer saber. Ela tentava colocar no bloco de notas tudo o que os mil pedacinhos de seu peito queriam dizer. Eram muitas vozes para escutar. Ela não aguentava ouvir todas elas. A cada vez que o fazia, seu coração se partia em alguns pedacinhos mais. Eram mais vozes para escutar – e mais lágrimas para explicar depois.
    Ao seu lado havia apenas uma janela aberta. Por ela dava para se ver o prédio ao lado. Por sorte, não havia ninguém no apartamento à sua frente. Estava vazio, assim como o documento, assim como seu coração. Ela queria encontrar um jeito de fazer aquilo. De escrever e de dizer o quanto ainda amava aquele cara, mesmo que ele nem estivesse por perto. Ou que estivesse. Nem isso ela poderia confirmar agora. E isso doía. Doía mais do que escutar os milhões de pedacinhos gritando por uma ajuda que, no momento, ela não poderia dar.
    Ela não queria culpá-lo. O fim da história não era só culpa dele. Ela tinha um pouco de culpa para si. Não iria terminar só porque um lado não queria. Os dois precisariam errar para chegar ao ponto do caminho onde cada um seguiria o seu próprio. Lá havia uma placa com duas setas. Cada uma apontando para um lado diferente. Ela ficaria no daqui. Ele, no de lá. 
    Ela não tinha ideia de como era o caminho dele. Talvez, mais fácil. Talvez até com algum encantamento para esquecê-la. Ela queria algo assim, e talvez até pediria para a Rainha de Copas (aquela do País das Maravilhas) arrancar algo seu. A cabeça, os pensamentos… Mas principalmente o coração. Ela o daria de bom grado e nem pediria nada em troca.
    Ela agora abominava o amor com todas as suas forças. Tinha medo e ódio desse sentimento. Tinha agonia só de pensar em se ver amando de novo. Tinha nojo de qualquer coisa que tivesse alguma relação com o amor. Mas sentia falta dele. Do amor dele. Da presença dele. Era a única parte do sentimento que ela entraria de corpo e alma. Com medo e com ódio. Com agonia e com nojo. Ela saberia que tudo isso a deixaria a partir do momento que ele estivesse por perto.
    Porque, afinal, havia um documento vazio sem nenhuma palavra para preenchê-lo. Havia uma garota sem qualquer ideia de como fazer sua dor lotar a tela com as frases de sempre. Havia um coração despedaçado e milhares de vozes para se ouvir. Mas havia um ele. Havia um ele em algum lugar. Um ele que, se quisesse, mudaria tudo. Até mesmo aquela garota sentada em frente à uma tela vazia, às três da madrugada, e desejando receber uma mensagem para mudar o rumo de suas palavras. Pelo menos uma vez.
  • Lembranças

    Lembranças são ariscas. Perigosas. A gente nunca sabe de onde (e quando digo onde, me refiro a um momento lá atrás) elas vão chegar. O pior é que nunca estamos preparados. Aparecem, cavam um novo buraco no peito e, às vezes, se vão com a mesma pressa que chegaram. 
    Lembranças não desaparecem, não caem no esquecimento e, ao contrário do que a gente pensa, não são fáceis de serem deixadas para trás. É bem ao contrário. Nós não esquecemos nosso passado, não perdemos nossas memórias. Apenas aprendemos a lidar com todas elas. Ou, em muitos casos, aceitamos que estão ali, apenas compartilhando o presente conosco do mesmo jeito e quase com a mesma intensidade de quando eram reais. No fundo, só existem essas duas opções, mesmo. Fazer o quê?
    A gente não perde nossas memórias, não as deixamos de lado. Elas machucam e não são piedosas. E não é fácil viver com a dor, com o vazio no coração e com a vontade de possuir uma máquina do tempo que nos permita voltar no passado e mudar tudo. Máquinas do tempo só existem em filmes (e ainda me pergunto se isso é bom ou ruim. Imagina que louco ficar voltando o passado como voltamos a cena anterior do filme?). E também não possuímos nada parecido com aquele controle remoto de Click. Moral da história: só temos uma chance, uma oportunidade, uma tentativa. Se houver uma segunda, é sorte. Mas só podemos garantir uma única. E temos que aproveitá-la.
    A vida passa e cada segundo é, ou deveria ser, precioso. Nossas vidas são feitas de escolhas. Nós escolhemos onde vamos parar, mesmo que sejam decisões indiretas. Se estamos bem ou mal, em parte, é nossa responsabilidade. Nós é que temos mania de culpar o outro. A culpa se torna mais legal e mais leve quando está nos ombros de qualquer um desde que não sejam os nossos, não é?
    É claro que não é fácil conviver com o passado agindo como se fosse presente (ambiguidade, você por aqui?). Passado é passado e ele nunca se tornará um presente. Passado não é agora e ele foi feito para ficar lá atrás, apenas existindo naquele momento. Mas passado também não foi feito para ser esquecido, pelo contrário. Lembranças são experiências, e elas nos fazem crescer, evoluir. A gente não esquece o que foi bom e nem o que foi ruim. Memórias são parte da vida, e esquecê-las é apagar uma parte de nossa vida. 
    Acredito que, na essência, tudo tem um lado bom. Lembranças boas, um dia, se tornam ruins (saudade é uma merda, vocês sabem). E quando isso acontece, não devemos nos remoer de arrependimento nem afundar no vazio que agora existe dentro de nós. Mas, sim, agradecer pelas memórias que ficaram. Quer o lado bom disso tudo? Elas foram reais, aconteceram de verdade. São provas de que, em algum período, existiram. Nada nem ninguém pode nos tirar isso. Viu? Nem tudo está perdido, afinal.
  • Seu melhor acessório é ser você

    Assim que toda a papelada do estágio estava pronta, a primeira coisa que fiz (depois de pesquisar preços de notebooks), foi procurar modelos de óculos diferentes do que eu estava acostumada a usar (sim, eu uso óculos haha). Queria um modelo mais atual e que não fosse tão imperceptível. Passei toda a minha vida querendo usar óculos que fossem mais simples e “apagadinhos”, como se isso me fizesse sentir que não havia nada no meu rosto. Tudo isso por um motivo bem óbvio: vergonha (quem já percebeu que nunca estou usando óculos nas fotos?)
    Bom, antes de continuar com o texto, acho que vale contar como minha história oftalmológica começou, né? Vamos lá.
    Logo no maternal, em um dos projetos da escola, acabaram diagnosticando que eu tinha uma deficiência nos olhos. Aconselharam que minha mãe me levasse ao oftalmologista e lá fomos ela e eu (na época, com quase quatro anos de idade). 
    Na consulta, o especialista constatou que eu tinha hipermetropia e astigmatismo. Daí, depois de estar com a receita em mãos, fomos até uma ótima escolher que modelo de óculos iria ser o primeiro de toda minha vida. Nem preciso dizer que foi de um personagem, né? (se não me engano, da Turma da Mônica).
    Agora imaginem uma criança de quatro anos gordinha, tímida… E de óculos! Vou até pular essa parte porque com certeza vocês já entenderam! rs.
    Depois desse modelo de óculos vieram outros. Nos anos seguintes, ainda de personagens (Barbie, Disney, etc e etc). Aí mudei para modelos mais, digamos, adultos. Mas nunca me senti eu com nenhum deles, sabem?
    Como disse no começo do texto, sempre escolhi modelos que não fossem chamativos. Meu argumento? “Não quero que pareça que uso óculos”. Idiota, né? 
    Aí comprei um diferente, enorme. Um que eu nunca imaginei que usaria um dia. Acho que até cheguei a falar que não curtia em algum momento da vida. Queimei a língua, claro. 
    Assim que peguei o óculos pronto, senti como se fosse eu. É, eu. Eu de verdade. Ironicamente, senti como se não tivesse nenhuma armação no meu rosto. Como se fizesse parte de mim.
    Agora vem a parte que eu queria chegar.
    Hoje, meu primeiro dia com o óculos, recebi mil e um elogios. Dos pais, dos amigos e até dos colegas de trabalho. E, principalmente, de mim. Tudo isso por um acessório que resolvi usar. Ou, vendo meu passado de óculos, ousar.

    É incrível como uma coisa simples pode mudar toda sua autoestima. Passei o dia todo me sentindo confiante, super feliz com meus novos olhos. Agora estou enxergando super bem. A vida e eu.
    Nosso melhor acessório não pode ser comprado. Na verdade, a gente ganha de graça assim que nasce. Nosso melhor acessório é transmitir o que somos, do jeito que somos mesmo. Sem máscaras, sem fingimento e mostrando, através das roupas, dos óculos e até da maquiagem, um pouquinho de nós. 
    Não tem nada mais satisfatório que usar algo que você gosta e se sentir livre. Nada melhor que se olhar no espelho e gostar do que vê. E isso não está ligado só à armação dos seus óculos; vale para maquiagem, roupa, cabelo… Tudo. 
    Como dizem por aí: quando passamos por uma fase de baixa autoestima, não tem nada melhor que mudar algo em nós. Seja a cor do cabelo, seja a maquiagem do dia e até o guarda-roupa inteiro. Não importa a dimensão – não estamos falando dela e, sim, de você. Nossa beleza vem de dentro pra fora e disso eu não discordo. Mas, quando mudamos algo na aparência, nossa confiança aumenta muito. E quando a confiança e a autoestima estão lá em cima, fica perceptível por fora. Até nosso sorriso se torna diferente!
    E o mais engraçado nisso tudo é que eu tive que mudar de óculos para entender. Ou, numa metáfora bem tosca, enxergar melhor. Quem entende uma adolescente?
  • Um papo sobre autoestima, Facebook e Megan Fox

    Hoje, enquanto estava no meu Facebook, comecei a reparar algumas imagens e posts no meu feed. Entre frases bonitinhas e colegas de rede social tentando fazer graça, acabei reparando em uma dezena de imagens com frases exaltando os famosos e até partes do corpo (nada a ver!) deles.
    O surpreendente não foi o conteúdo dessas imagens e prints. Mas, sim, a presença deles. Se eu fosse fazer as contas, acredito que 90% das atualizações no Facebook têm esse tipo de conteúdo. 
    Comece a reparar nos amigos e até em você. Quantas vezes já se deparou com alguém (tentando ser engraçado, é claro) dizendo que até a unha do dedo mindinho do pé da Megan Fox é mais bonito que você por completo? Agora, responda: quantas vezes você já viu o dedo mindinho do pé da Megan Fox? Quantas vezes quem escreveu aquilo já viu você?
    Acontece que, infelizmente, estamos vivendo uma fase em que se sentir feio e indesejado é comum. Autoestima só existe na teoria e nos textos de revistas teen. É difícil conhecer alguém que valorize a imagem que vê no espelho e o que é por dentro. E quando isso acontece, ainda é rotulada de metida.
    E onde fica todo aquele papo de se gostar para que gostem de você? Imagina que aquele cara que você é apaixonada desde a 7ª série encontra seu perfil no Facebook (ou, sei lá, Twitter) e resolve vasculhar sua vida, suas atualizações e suas fotos. Já pensou o quanto ele ia achar chato encontrar mil e uma frases de você se jogando lá embaixo? Que garoto quer ficar com uma menina que, por qualquer motivo, começa a se inferiorizar? Garotos não curtem garotas inseguras. É um tormento se relacionar com quem se coloca pra baixo a cada vez que vê uma garota que se cuida e tem confiança. 
    E tem outro ponto: a Megan Fox é linda. Não nego. Consigo ver todos os pontos positivos no rosto e no corpo dela. Só que esquecem um porém, não é? Ela é uma pessoa pública. Ela ganha através da imagem que apresenta. Ela é linda, é claro. Mas é produzida. Lá existe uma mulher com maquiagem perfeita, cabelos super bem tratados e horas de academia. Que garota do mundo real tem uma vida assim?
    Entendem a diferença? Autoestima está mais ligada ao que somos por dentro do que o que vemos por fora. Se não exercitamos nossa confiança, sempre vamos nos enxergar como alguém indesejável e, no ponto de vista dos outros, feia e desinteressante. E ninguém é assim. Olhe a sua volta e perceba quantas pessoas gostam de você. Sabe aquela amiga que elogia seu cabelo? Não é querer ser falsa. É sinceridade. Apenas jogue essa barreira que te impede de acreditar na sua bff e passe a tomar os elogios como uma verdade. Tenha certeza que é.
    Você não é a Megan Fox e não é inferior ao dedo mindinho do pé dela. Você é melhor que isso. É única. Especial. E é isso que te torna tão linda. Apenas aceite e, na próxima vez que se olhar no espelho, veja suas qualidades. Elas são inúmeras, incontáveis. E, as vezes, invisíveis aos nossos olhos que só procuram por defeitos. Aliás… Todo mundo tem defeitos, viu? Até a Megan Fox. E eles são especiais, também, por formarem quem você é. 
    Ame suas qualidades, ame seus defeitos. E, acima de tudo: ame ser o que você é.
  • Nossas pizzas de fim de semana

    Todo fim de semana, minha mãe sempre chegava em casa com uma massa de pizza semi-pronta. Com toda a alegria – como se, realmente, fosse uma chef -, eu corria até a cozinha, louca para colocar a mão na massa. Eu era a estagiária e ela, a minha instrutora. 
    Nunca comíamos a pizza do jeito que ela chegava em casa. A gente tinha mania de complementá-la com outras coisas que a marca se esquecia. Era assim todas as vezes – e eu adorava isso.
    Lá da sala, meu pai começava a reclamar do horário. “Cadê essa pizza que não sai? Já são dez horas!”. Mesmo assim, sempre estava de olho na cozinha (e ajudando em tudo o que ele tinha permissão para tocar). Éramos cozinheiros de mãos cheias e sem nenhum certificado. O que, claro, tornava tudo melhor.
    Depois, levávamos até a sala um dos bancos que meu pai ainda tem no quintal. Apoiávamos a bandeja com a pizza e, no chão mesmo, colocávamos os pratos, os copos e a Coca Cola de dois litros (saudades de comprar uma Coca Cola de dois litros pelo preço de antes). Ou, as vezes, um refrigerante de tubaína. Nosso favorito.
    E assim rolava a noite. Conversas, TV ligada só para fazer barulho e um pedindo o ketchup ao outro. 
    Eram dias maravilhosos. Aliás, ainda é. Com menos frequência, é claro (mãe de dieta = nada de massas todos os fins de semana). Mas, mesmo assim, cada vez que minha mãe inventa de comprar uma pizza ou até pães para fazer sandubas, eu volto a ter os mesmos sete ou oito anos de antes, quando eu era uma chef de cozinha sem nem, ao menos, tocar no fogão.
    E querem saber? As melhores pizzas e os melhores sanduíches que comi não foram feitos em um restaurante famoso e caro. Foram feitos em casa mesmo, em uma cozinha doméstica sem nenhum forno superpotente nem ingredientes secretos. Só o amor.
  • A vida que deixei para trás

    Não há um dia que eu não pense em você. As paredes a minha volta não servem só para me separar do mundo e me punir das besteiras que fiz. Elas também jogam na minha cara como fui idiota em te trocar por uma vida – ou o que eu achava ser uma – miserável e a base de nada. Nada. É… foi só o que me restou.
    A gente se conheceu em uma dessas baladas da vida. Você se aproximou e me pagou uma ou duas bebidas.  Sob o efeito delas, dançamos três ou quatro músicas. E, depois disso, foram cinco ou mais beijos.
    Lá em cima, o DJ cuidava para escolher a música perfeita naquele momento. Não reconheci nenhuma delas e até hoje me pergunto o nome daquela que marcou nosso primeiro beijo. Mesmo assim, é a nossa trilha sonora. Seja lá o que as letras significavam (você sabe que eu nunca fui boa em inglês).
    Depois disso, o tempo passou voando. Anel. Buquê. Vestido branco. Nove meses. Choros altos. Noites em claro. Mais dois pares de olhos brilhantes na casa.
    E agora, tudo o que eu queria era voltar, novamente, àquele nosso primeiro encontro.
    Eu só queria seu novo endereço ou número de celular. Queria te contar como as coisas desandaram por aqui.
    Você se foi. Levou junto meu coração, meus planos e uma parte grande de mim: nossa filha. Ainda escuto os choros dela em meus pesadelos injustos. Perdi você, perdi a dona dos olhos mais brilhantes que já vi e, principalmente, perdi a mim.
    Troquei nossa vida por um cigarro ou dois. Depois, troquei os cigarros por coisas mais fortes. De repente, eles viraram minha vida. Hoje entendo como fui idiota. Só queria te ter como destinatário para contar o que mudou.
    Já faz tempo que estou limpa. Limpa de tudo e, talvez, até do coração. Acho que o vendi por um pouco de alguma droga. Mas sei que você tem uma cópia perfeita dele. Volta pra mim e me ensina a viver de novo? Por favor.
    Sem vocês, não vejo sentido ter um futuro. Estou pronta para deixar este quarto e me aventurar a viver – de verdade, desta vez. Vem me buscar. Você sabe meu endereço, meu nome e até meu RG. 
    Vem e devolve nossa vida antes que eu desista da minha.
  • O momento em que a gente se (re?) encontra

    Sai de casa naquela manhã chuvosa. Dentro do estômago havia apenas metade de um pão integral e dois goles de café. Dentro da bolsa, apenas uns trocados (talvez mais moedas que cédulas, confesso). E, dentro da alma, uma vontade louca de me (re?) encontrar.
    Peguei o primeiro ônibus vazio que passou no ponto. Sentei ao lado de uma moça com cheiro de lavanda e um fone no ouvido. É, só um. O outro estava jogado e perdido no meio dos seus cabelos.
    Segundo o relógio dela, eram nove horas da manhã. Segundo o céu, o tempo chuvoso iria permanecer durante as próximas horas. Bom, não tenho muita certeza quanto a isso. Nunca fui boa tentando prever o tempo.
    Desci em um ponto depois de uma estrada sem prédios, casas nem pedestres. Meu destino? Quem sabe?
    Comecei a andar sem rumo. Queria encontrar algo e só sairia dali após conseguir. Não deixaria essa necessidade para trás (e muito menos para depois). Se fizesse isso, eu me deixaria ali também.
    Encontrei uma praça vazia com dois ou três bancos e incontáveis árvores. Cena perfeita para aqueles romances clichês (ou, dependendo o momento e a trilha sonora, filme de terror). Deitei embaixo de uma delas. A vista era acolhedora e, a sombra, deliciosa.
    Fui até ali à procura de mim. E encontrei. Embaixo daquelas folhas e encostada naquele tronco cheio de limo, fiz uma introspecção. E valeu (muito!) a pena.
    Nunca vou me esquecer o dia em que eu me (re?) encontrei. É, bem ali no meio de uma praça insignificante e sem atenção da prefeitura. Bem ali embaixo de uma árvore de cento em poucos anos. Ali eu entendi… Ou melhor, me entendi.
    A vida não é, nunca foi e não tem planos de ser fácil. Mas nem por isso ela não pode ser boa, ser deliciosa. E, sabe? A gente tem mais é que aproveitar. Se jogar nela. E ignorar o que vão pensar e dizer.
    O que importa é o que você sente. E o que vou contar agora, eu quero que você leve pra sua vida. Não deixe só numa página, numa folha ou nos dois minutos que você usou para ler tudo isso e chegar até aqui. Nem precisa de caneta e bloquinho de anotações para lembrar desse, digamos, conselho. É só ler com muita atenção. Vamos lá?
    Sinta-se como se estivesse embaixo de uma árvore. Não literalmente, é claro. De mentirinha, mesmo, só em devaneios. Sabe, metáfora pura.
    Embaixo da árvore só há você. Você, seus sentimentos, seus pensamentos e seu mundo. É isso o que importa: o que está embaixo das folhas. A opinião negativa de quem vive fora delas, você deve considerar como pinguinhos de chuva que a árvore vai impedir que cheguem até você. Ela vai ser sua proteção, seu escudo. 
    Mas se, por acaso, alguma gota passar por algum espaço entre as folhas lá em cima… Bom, é só uma gotinha minúscula, não é? Nada que passar a mão por cima para destruí-la não resolva o problema. (Agora você entende que é mais forte do que imagina?)