Relacionamento abusivo: precisamos falar sobre isso!

Rosas, ursinhos de pelúcia, chocolates, jantares caros… Quando se fala em Dia dos Namorados, esse é o cenário idealizado e até mesmo vivido por muitos casais, né? Porém, nem tudo são, literalmente, flores. Atrás de um momento agradável ou de uma foto amorosa nas redes sociais, pode estar escondido um relacionamento abusivo. São em datas comemorativas como esta que eles se tornam ainda mais mascarados, principalmente quando, quem pratica a violência, demonstra um lado mais amoroso, empático e com sinais de mudança.

Relacionamentos abusivos

Pode até parecer que o relacionamento abusivo é uma realidade distante ou “apenas” assunto de redes sociais. Infelizmente, a gente não precisa procurar muito para encontrar alguém que já viveu neste cenário. Prova disso é que uma amiga minha, a Pamela Dal Alva, de 26 anos, passou por uma relação tóxica e só fui descobrir após o artigo que ela publicou no blog Era Outra Vez. Foi aí que caiu a ficha: quantas pessoas à nossa volta já passaram pelo mesmo e a gente nem imagina?

“No começo, eram altos e baixos, brigávamos por besteiras e insegurança da parte dele”, conta Pamela. “Ele me fez perder o gosto das coisas, me fez perder o sentido de amar, me fez ficar com dúvidas sobre as coisas e me fez questionar a minha capacidade de existência”. Além disso, ela se afastou de todos os amigos, saiu das redes sociais, perdeu festas de aniversário e casamentos, entre outras mudanças de comportamento. “No começo, foi opcional. Mas, depois de muita chantagem emocional que cedi, o que ele queria piorou muito mais porque eu dei a deixa para ele mandar em mim. Ele me fez acreditar que eu era inútil, que todas minhas lembranças eram falsas, que eu precisava dele”.

Afinal, o que é relacionamento abusivo?

Segundo a psicanalista Dra. Andréa Ladislau, relacionamento abusivo significa quando uma relação deixa de ser saudável para se tornar desconfortante, com atitudes que privam o outro de exercer sua própria liberdade. “Podemos citar os jogos de controle, ciúmes excessivos e abusos constantes que ferem a individualidade dos parceiros”, explica. Além disso, ela também traz para a lista: promessas infundadas, chantagens, punições, controles, invasão de privacidade, afastamento de outras pessoas, destruição da autoestima e invalidação de sentimentos.

Relacionamentos abusivos

É importante frisar que, diferente do que muita gente pensa, esse tipo de atitude não acontece apenas em relações amorosas. “Um relacionamento abusivo pode ocorrer em qualquer tipo de relação, seja entre homens e mulheres, pessoas do mesmo sexo, relações de poder no ambiente laboral, pais e filhos, relações familiares, ou entre amigos”, explica a Dra. Andréa Ladislau.

Para Pamela, que namorou por um ano e meio, os sinais de que estava vivendo um relacionamento abusivo se tornaram mais evidentes após as discussões sobre deletar seu próprio blog. “Era a única coisa que eu tinha e não ia permitir ser tirada de mim”, relembra. Além disso, as suspeitas se tornaram ainda mais fortes após ajuda de uma amiga. “Ela me mandava vários vídeos e matérias sobre relacionamento abusivo. O processo nunca é fácil, mas foi algo muito além. Com os vídeos, comecei a perceber e a comparar”.

No caso da Pamela, ela mesma reparou sua própria situação e tentou se livrar dela. Segundo a Dra. Andréa Ladislau, essa atitude é muito importante para sair da realidade em que a vítima se encontra. É necessário se conhecer como indivíduo e entender suas necessidades, limites, vontades próprias e, inclusive, redescobrir o amor próprio para não cair na mesma armadilha de novo. “Quando nos conhecemos bem, sabemos melhor quem são os tipos de pessoas que conseguimos lidar e quais os tipos nos ferem e incomodam. Trabalhar sua autoestima é fundamental, exaltando suas qualidades”, ressalta.

Como saber se estou em um relacionamento abusivo?

Perceber que você está vivendo um relacionamento abusivo não é um processo fácil nem rápido. Isso porque são inúmeros os sinais que apontam abuso por parte do outro em uma relação. Entre eles, a Dra. Andréa Ladislau citou:

1 – A desvalorização frequente e a humilhação em situações em que sempre o outro aponta seus erros;

2 – O abusador inverte sempre as situações, colocando a vitima do abuso em situações constrangedoras, distorce a realidade dos fatos, e insinua, muitas vezes, que a vítima faz drama;

3 – O abusador manipula e controla a vida do outro todo o tempo sem respeitar os limites do individuo;

4 – Nunca aceita não como resposta, força a barra e se faz de desentendido até conseguir o que deseja;

Relacionamentos abusivos

5 – Manipula a vítima e os outros, de forma a fazer com que esta e todos pensem que a vítima não é uma pessoa digna de amor. Ou seja, diminui a autoestima através da violência psicológica;

6 – O abusador procura sempre afastar a vítima de outras pessoas que possam abrir seus olhos, demonstrando que este está vivendo uma situação de abuso. Muitas vezes, afasta essa vítima até da própria família e leva o individuo a acreditar que tudo que acontece de errado é culpa dela;

7 – Receber comentários abusivos, ofensivos e constrangedores, principalmente na frente dos outros, é uma das situações mais comuns em caso de relações de abuso;

8 – Ser monitorado constantemente, ser diminuído, obrigado a mudar seus hábitos e conviver com alguém que pensa só em si e não se importa com seus sentimentos. 

Mulheres em relacionamentos abusivos: por que tão comum?

Mesmo com a discussão cada vez mais intensa sobre relacionamentos abusivos, os casos continuam acontecendo com frequência, especialmente com vítimas do sexo feminino. Segundo a Dra. Andréa Ladislau, sair dessa situação é extremamente doloroso e difícil, pois o abusador diminui a companheira, domina, muitas vezes por meio do medo, ameaças e até afastamento de pessoas que poderiam auxiliar na mudança dessa realidade. “Ter uma visão completa desta relação e de como ela é na realidade, nem sempre é fácil para a vítima que está inserida dentro do contexto e, por este fato, não consegue se distanciar o suficiente para ver o panorama completo”, explica.

Relacionamentos abusivos

No caso de Pamela, ela mesma tomou a iniciativa de dar um ponto final no relacionamento. “Ao longo do tempo, foram vários términos, mas nesse, em particular, eu não quis voltar”, relembra. Após a experiência, a paulista conta que ficou com o psicológico muito afetado e, mesmo 6 anos depois do ocorrido, ainda guarda muitas marcas consequentes daquele período. “Estou trabalhando na insegurança, para voltar a ser como antes. Não exatamente como antes, mas pelo menos ter de volta a autoestima e acreditar em mim mesma”.

Para quem passou por um relacionamento abusivo, é muito importante buscar ajuda profissional, de amigos e parentes próximos. De acordo com a Dra. Andréa Ladislau, o profissional de psicologia ou psicanalista pode auxiliar a vítima a se perceber dentro do processo e entender de que forma pode se libertar de um indivíduo manipulador, persuasivo e perverso. “A autoestima baixa também pode ser melhorada e, através do autoconhecimento, a vítima consegue perceber que não precisa do outro para seguir sua vida. Precisa de tranquilidade, paz e amor recíprocos para uma condição de relação sustentável e feliz”, completa.

E se eu sou o abusivo da relação?

Uma relação abusiva é formada pela vítima, que sofre as consequências daquela violência, e pelo abusador. Perceber qual é seu papel dentro desse cenário é essencial para tomar alguma decisão, seja terminar o relacionamento ou, no outro caso, mudar suas próprias atitudes.

“A nossa interferência na vida do outro só pode ir até o ponto que não fere a autoestima, não impõe opiniões, respeita as características e percepções do parceiro. Tudo em excesso faz mal, até nas relações”, explica a Dra. Andréa Ladislau.

De acordo com a psicanalista, existem chances do abusador melhorar, desde que exista a consciência e o desejo de mudança. “Ela tem que partir de dentro de nós. Se estamos magoando o parceiro e temos certeza de que essa relação é a que queremos, então o mais certo é respeitar o individuo que está ao nosso lado e buscar compreender que não somos seres iguais, pelo contrário, somos diferentes sim e também somos seres em constante evolução”, explica.

Agora quero saber de vocês: já vivenciaram ou conhecem alguém que passou por um relacionamento abusivo? Conte sua história nos comentários! Se necessário, envie o link do post para quem está passando por uma relação assim. Nesse momento, tudo o que a vítima precisa é de ajuda e informação. Bora dar o primeiro passo? 🙂

Comments

  1. Luiz Almeida Avatar
    Luiz Almeida

    Parabéns a Dra Andréa Ladislau que traçou um perfil de diagnóstico crônico, criterioso, fundamentado e extremamente cauteloso, que será de uma importância imprescindível para muitas pessoas e casais que se encontram nesta situação.

    1. Juliana Duarte Avatar

      Ela arrasou! ❤️

  2. Pamela Dal Alva Avatar

    Aaah nem preciso dizer que arrasou nessa matéria né? Ficou incrível e espero que ajude muitas pessoas, temos sim que falar sobre isso e agora que tô com essa coragem quero ajudar as pessoas.

    ❤️❤️❤️❤️❤️

    1. Juliana Duarte Avatar

      aaaaa sua linda! Muito obrigada ❤️❤️ Sua ajuda foi o que tornou o post tão bem-feito!

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