Tag: saudade

  • Abri e escrevi… Simples assim

    Faz tempo que eu não abro uma página em branco apenas para escrever o que vem à minha mente.

    E prometi a mim mesma que faria isso sem muita edição. Abri a página do blog, criei um novo post e estou escrevendo o que dá na telha. Sem lapidar pra ficar poético ou bonito, sabe?

    Até porque o cru também pode ser belo.

    Eu não explicar em que parte do meu caminho eu parei de abrir meu coração aqui. Era um hábito fácil, leve, benéfico. Algo acontecia e, imediatamente, eu tentava compreender por meio de palavras – as minhas próprias. Nunca foi um fardo. Pelo contrário. Era… natural.

    Tá, eu sei que a vida ficou confusa. Tivemos uma pandemia que alterou a nossa rotina, corpo e mente para sempre. O que antes era apenas um www no navegador se tornou dezenas de aplicativos com formatos, linguagens e conteúdos diferentes.

    Ao mesmo tempo que existem tantos terrenos pra explorar, o espaço foi ficando cada vez mais curto. E como entender o que sentimos quando o algoritmo nos obriga a ter sempre algo pra dizer?

    O sentimento e criatividade também são sensíveis em meio ao caos.

    Mas não foi só isso. Por mais que o cenário não seja tão promissor, o ambiente interno também tem seu espaço de responsabilidade. Faltou o que dizer. Faltou me entender. Faltou sentir.

    A vida se complicou, ao mesmo tempo que parecia se ajeitar. Tentei correr do que alguma versão minha do passado sonhava. E me encontrei em uma realidade onde só sobrou frustração. O tempo foi embora. E tudo que (não) vivi também. Como a gente recupera a única coisa que é irrecuperável?

    Sonhos antigos voltaram. Vontades passageiras se foram. Frustrações novas e antigas viraram uma bola de neve. O que parecia bom já não era suficiente. O que parecia suficiente já não era tão benéfico.

    E, quando percebi, tinha deixado de sentir. Tinha perdido partes de mim que eu julgava essenciais. Mas como encontrar em meio à imensidão que somos?

    Eu não tenho respostas. Mas venho tentando encontrar soluções, mesmo quando a falta de vontade é grande. Não é fácil construir hábitos, principalmente quando se perdem em meio à rotina. Mas eu já fui assim em algum momento – e não era tão difícil. Se posso estar lá pelos outros, talvez, eu consiga por mim também.

    Estou (re)começando por aqui. Aos poucos. Com um pouquinho de obrigação no início, confesso. Porém, com vontade de encontrar, por meio de páginas, palavras e até sentimentos, quem já fui um dia.

    Não é uma trajetória rápida. Muito menos fácil. Mas posso tentar. E, no fim do dia, isso já não é válido?

  • Minha história na blogosfera e o que está acontecendo com ela hoje?

    Blogosfera

    Esse é um daqueles posts-desabafo que há muito tempo eu não faço aqui no blog. Sem técnicas de SEO, sem preocupação se as fotos estão combinando e sem aquela neura de ficar tudo perfeitinho. Não que eu esteja desleixada. A verdade é que ontem eu vi uma imagem que representa muito a blogosfera das antigas e desde então estou pensando muito sobre isso.

    E cá estou eu para compartilhar meus pensamentos com vocês.

    Como sabem, eu comecei na blogosfera no final de 2005. Caí no Zip Net (plataforma super simples da Uol) sem querer, pois meu objetivo era, na verdade, criar um site. Eu só queria um espacinho para chamar de “portal” e falar sobre minha banda e novela favoritas: RBD e Rebelde. Para mim era algo inovador, afinal eu não conhecia nenhum site com esse objetivo. Você vai me dizer: mas Julie, existiam vários. Sim, com certeza existiam. Mas naquela época eu era apenas uma garotinha de 11 anos com uma internet discada e sem muito conhecimento com relação a web, Google e essas coisas.

    Na minha cabeça eu era a primeira e tudo bem para mim.

    Então fiz meu e-mail na Bol (era necessário para criar a conta no Zip Net) e lá fui eu escrever as primeiras postagens. O blog se chamava RBD Brasil Oficial e os posts eram simplesmente comentários sobre a novela. Lembro até que tirei foto de uma revista e contei, achando ser em primeira mão, que a personagem Lola iria tingir o cabelo de ruivo (igual da Roberta) para impressionar o Diego. Todo mundo que comprou a revista já sabia. Eu mal tinha leitores. Mas lá estava eu, na inocência e com o carinho de postar, informando as boas novas.

    A blogosfera, na época, era pura curtição. A gente escrevia só por passatempo, mesmo. Eu nunca ganhei um centavo com meu blog simples hospedado no Zip Net. Mas ganhei muitas outras coisas que, para mim, são bem mais importantes.

    Vicky's Place - blogosfera anos 2000

    A internet há 10 anos não era como hoje. Não havia muito conteúdo e encontrar algo específico era bem complicado. Euzinha, com a internet e o conhecimento limitados, mal conseguia achar um tema para o blog que fosse do RBD. Novamente: havia, sim, vários por aí (que só descobri mais tarde). Mas, ó, ainda bem que eu não dei de cara com eles.

    Foi nessa dificuldade de encontrar um tema adequado para o meu “site” que eu comecei a pesquisar como fazer um. O Zip Net, na época, era praticamente o que o Blogspot é para nós hoje em dia (só que muito mais limitado). Havia uma quantidade considerável de artigos sobre a plataforma, pois era a primeira que nós, blogueiros, procurávamos para criar nossos cantinhos. Existia o Blogger, mas este era somente para assinantes da Globo. Na época, poucos queriam pagar por algo na internet, né? Ah, e também havia o WordPress, mas a maioria considerava complexo demais para fazer qualquer coisa.

    Encontrei diversos sites que ajudavam a criar layouts para o Zip Net. A linguagem era basicamente HTML e CSS, mas com alguns códigos próprios (assim como todas as plataformas possuem). O blog que mais me ajudou foi o Cristiny Online (não existe mais, mas vocês podem vê-lo neste site arquivo). Para vocês terem uma ideia: ela tinha uns três blogs para manter o domínio no ar. Explico: um era o endereço em si, outro para colocar os arquivos grátis e outro de postagem que era inserido na área de posts do blog. Louco, né? As coisas na época não eram nada fáceis.

    No Cristiny Online eu encontrei um tutorial explicando como fazer o tal template. Além de ensinar como fazer, ela ainda disponibilizava vários modelos para você escolher, já com código prontinho, e só alterar as imagens (no caso, do topo e fundo). E a aparência dos blogs não era como hoje, viu? Vou deixar uns modelos para vocês entenderem os “looks” famosos da blogosfera na época.

    Blogs 2000

    Links para conferir ao vivo: Pétalas da Emoção | Coração Rosa | Mundinho Rê Lua | Concurso RBD Brasil Oficial (um dos meus blogs haha)

    E lá fui eu colocar a mão na massa para criar meus templates do RBD. Foi nessa que eu descobri que precisava de um programa de edição de imagens. E nada de Photoshop. O computador (com seus humildes 120mb de memória, o que era comum na época) mal aguentava os programas básicos. Tive que baixar outro similar, o Paint Shop Pro. Ele era gratuito, muito parecido com o software da Adobe e quebrou um galhão (mas eu ainda queria o Photoshop original só para fazer um efeito na fonte que todo mundo na blogosfera fazia).

    Depois que aprendi mais ou menos a mexer no Paint Shop Pro, lá fui eu para os códigos. Mal sabia o que um “b” entre <> significava. Aí descobri que era negrito. Depois itálico. Depois fui conhecer as divs. E por aí foi. Por que estou dizendo tudo isso? Simplesmente porque foi por não encontrar um template pronto do RBD que eu aprendi tudo que sei hoje de Photoshop e linguagens de blogs.

    Hoje em dia as coisas são bem diferentes e, neste ponto, sinto dizer que infelizmente. Eu recebo muitos e-mails todos os dias de leitores ou visitantes pedindo para que eu faça o blog deles. Não oferecem um centavo, só jogam assim: Julie, faz um blog pra mim? Isso vale para outras modificações, como por exemplo: “Julie, edita tal foto pra mim?”, “Julie, faz um menu legal para mim?” e por aí vai.

    Cristiny Online

    O pessoal novo da blogosfera (não generalizando, mas uma boa parte) entrou neste mundo porque aqueles das antigas conseguiram algum destaque e disseminaram os blogs. Hoje em dia ser blogueiro é legal. Quando eu comecei, ter um blog era até motivo de vergonha. Ninguém queria os amigos, pais e familiares lendo sobre seus dias. Blog era um diário, por isso era mantido em segredo. Nós éramos e queríamos continuar sendo anônimos. Tanto que, no máximo, colocávamos nosso e-mail para contato. Nada de Orkut, MySpace e as redes sociais da época.

    O que me entristece hoje em dia é ver “blogueiros” querendo tudo pronto. Pedem layouts, alterações de código, edições de imagem e até mesmo divulgação. A impressão que eu tenho é que perdeu-se o tesão de correr atrás das coisas. Ninguém quer ter que levantar para conseguir seu objetivo. Querem que traga, de bandeja, nas mãos.

    E gente, isso é chato pra caralho – com perdão do palavrão.

    Pode parecer texto de gente velha, mas eu sou da época que ou você aprendia ou você não tinha. Sou da época que você pedia para alguém lhe ensinar algo, não fazer para você. Sou da época dos fóruns de ajuda, das comunidades do Orkut e dos blogs cheios de tutoriais. Você não chegava no blogueiro e pedia para ele fazer algo para você. E nem reclamava do conteúdo disponibilizado. Você o agradecia eternamente por tirar horas do seu dia e fazer algo que não iria render nada para ele.

    Porque blogosfera era assim. Você pelos outros, sem esperar nada em troca. E mesmo assim nós, beneficiados, tentávamos “pagar” linkando o blog que nos ajudou em nossas páginas. Não queríamos só o “vinde a nós”.

    Evelyn's Place na blogosfera

    Não havia pagamento por nada e essa sinceridade faz falta hoje em dia. Não só no conteúdo, como nas amizades. O que eu vejo hoje em dia são pessoas fingindo algum sentimento para ganhar em cima de outra. Pessoas falando de qualquer coisa em seus blogs em troca de dinheiro. Conteúdo perdendo a qualidade porque não pensam mais no público, só no próprio umbigo.

    Eu não vou me excluir do grupo que mudou. A blogosfera está em constante atualização. Vide os layouts que antes eram cheios de desenhos de menininhas e agora passaram para vários borrões de aquarela, design clean e sliders. E nós temos que nos adaptar a isso assim como nossos pais se adaptaram às novas televisões. O que estou dizendo é: cadê a essência? Eu tento levar o que aprendi lá em 2006 em cada postagem do Julie de Batom, mas com um toque da “atualidade”. Eu sinto muita falta de entrar em blogs e ler algo pessoal, resenhas sinceras e indicações de produtos de marcas que não pagaram para estar ali. Sinto falta de entrar em blogs que, pelo menos uma vez na vida, se importam em fazer um post pessoal, sem se preocupar em qual página estarão no Google. Isso é importante? Sim. Mas não deve ser único.

    O que eu quero com esse post é dizer que nós somos a blogosfera. Nós somos a mudança. Se achamos que está ruim, que esse mundo está vendido e superficial, nós podemos mudar. Eu não quero expor uma vida que não é minha, cheia de ostentação e máscaras. Eu quero continuar com a mesma essência, ingenuidade (no bom sentido) e simplicidade daquela Juliana de 11 anos que parou na blogosfera porque queria criar um “site”. Com a vontade de correr atrás de seus desejos do mesmo jeito que foi aprender como criar layouts, imagens, gifs com estrelinhas e códigos.

    E quero contagiá-los também.

    Se você leu esse texto completo, te faço um pedido: seja sincero. Seja honesto. Seja você. Não tente transformar seu blog em algo que ele não é. Não seja umbiguista. Ganhar dinheiro e mimos é legal? Sim, claro que é. Mas crie seu conteúdo pensando no público, nunca em benefício próprio. Seja como a Cristiny Online, a Vicky’s Place, a Evelyn’s Place (sim, é a mesma do É do Babado) que por anos criaram conteúdo só para ajudar o próximo. Só para oferecer algo que nem todos poderiam ou saberiam criar.

    Ainda em tempo: quero dizer que eu sou super a favor do blog virar um veículo de comunicação, do criador de conteúdo ganhar dinheiro, pois, sim, é um trabalho (e dá tanto trabalho como qualquer outro). O que estou salientando no post é que a blogosfera não é apenas grana, mimos e ostentação. Sinto falta da essência de antigamente, de você sentir carinho, amor e dedicação em cada página. E não interesse, sabem? Se misturar o carinho pela blogagem e a profissionalização dos blogs, tudo seria melhor.

    Por essa simplicidade, sinceridade e autenticidade, a blogosfera vota – e implora por – sim!

  • Quinze

    Confesso: até hoje sinto falta dos quinze. Sei lá. Parece que foi minha melhor idade. Ou, pelo menos, a que mais deu certo. Em tudo.
    O coração estava calmo. Em paz. Tranquilo. Completo. A aparência eu prefiro nem comentar. Eu tinha o cabelo mais curto e era loira. Ou melhor, quase. Um ano antes fiz a besteira de fazer luzes. Ah, vai. Quem nunca? Histórias sobre erros no cabelo fazem parte de qualquer passado feminino. Não é?
    Eu cabia direitinho nas calças número 38 que ficaram anos no fundo do guarda-roupa à espera de que, um dia, eu voltasse a entrar nelas. Quatro anos depois, duas numerações a mais, desisti. Vão para doação.
    Parte física de lado, os quinze foram especiais. Eu fazia parte de um grupo legal de amigos na escola. Tinha boas notas. Comecei a não suportar matemática. E a amar português. Queria ser web designer. Descobri a paixão pela escrita. Tinha fake. Descobri a paixão por fotografia. Ah, 2009…
    Mais que tudo isso, os quinze foram tão especiais quanto a ansiedade de ser princesa por uma noite. E ter um príncipe. Ou um sapo fantasiado de príncipe. Mas que, na época, ganharia a coroa de “cara da minha vida”. Ok, foi. Por um curtinho espaço de tempo. Mas foi.
    Aí veio os 16. Passo. Os 17. Passo. Os 18. Passo. Entrei nos 19. Daqui menos de um ano, completo os dedos dos pés. Aí volto para as mãos. Haja dedos.
    E ainda assim, cá estou eu falando do passado. É, dos quinze. Saudade é pouco perto do que sinto. Sei que vão pensar que é por alguém especial. Mas não. É tudo. A agitação de ir para a escola. De rever pessoas importantes. De voltar no ônibus com uns cinco amigos legais fazendo alguma palhaçada. Da falta de tantas responsabilidades. E, quer saber? Até das bronquinhas dos pais eu sinto falta (e tenho que confessar que elas foram muitas nessa época).
    Depois dos quinze (não, não é o blog, tá?) tudo mudou. Alguns exemplos? Vou voltar um pouquinho no texto e dizer os mesmos. O coração está vazio. Solitário. Cheio de buraquinhos, como diria uma música das Chiquititas. As notas são baixas, tão baixas que a Juliana dos 15 odiaria só de pensar. Matemática se tornou só uma matéria que tive na escola um dia. Web designer virou um hobbie e não uma profissão. O loiro se foi. O cabelo mais curto, também. Paixão pela fotografia e escrita, ok, continuaram. Pelo menos algo, né?
    Voltando… Depois dos quinze vieram as responsabilidades. Principalmente aos 18. Engraçado. A gente pensa que, até essa idade, tudo vai ser só diversão. Ou, pelo menos, grande parte do tudo. Valorizamos mais a mesada do que o esforço dos pais para gerá-la. Valorizamos mais a quantidade de caras que ficamos do que aqueles que, realmente, fizeram alguma mudança. Valorizamos mais a quantidade de amigos do que a intensidade de cada um. 
    Hoje vejo que nada disso era tão importante. Sinto falta de cada momento e cada pessoa que significou algo, não pela quantidade que elas foram, mas pelas marcas que deixaram. Os caras que conheci pouco importam perto daquele que, algum dia, vai fazer alguma mudança. Dinheiro é algo que, agora sim, entendo o valor. Não porque passei uma semana guardando o troco do lanche. Mas, sim, porque passei um mês trabalhando – e depois vejo tudo voar quando as contas chegam.
    É como se, aos quinze, tudo ainda fosse só sonhos. E hoje, quatro anos depois, tudo fosse… Tá, sonhos. Mas com os pés mais grudados ao chão. Talvez essa seja a vida de adulto que tanto falavam. E que a gente só entende quando estamos dentro dela. 
    Bem vinda à vida de gente grande. 
  • Minhas 10 músicas favoritas da banda RBD

    Tenho uma teoria que tudo o que bom para nós, de certa forma, nunca deixa de ser marcante. As vezes, pode perder a graça ou pode ser duas vezes melhor. Porém, se foi importante, sempre ficará ali, no passado, mas, também, no presente e no futuro (com as marcas que deixou).
    Por que estou falando isso? Porque RBD foi assim comigo. A banda foi algo que deixou muita coisa boa em minha vida. Faz tempo? Sim, faz. Mas nunca a deixei de lado. As músicas continuaram nas minhas playlists e, os integrantes da banda, nos feeds das minhas redes sociais. Outros ídolos vieram, mas o espaço de Dulce, Anahi, Maite, Ucker, Christian e Poncho permaneceu o mesmo.
    Hoje, após mais um capítulo de Rebelde, me vi pensando no quanto essa banda foi importante para mim. E algo me “afetou” mais que diretamente. Posso contar, né? Acho que a maioria de vocês já sabe, mas foi por causa do RBD que eu entrei na blogosfera, lá em 2006! Eu tinha um blog chamado RBD Brasil Oficial, onde falava coisas bobas, comentava os capítulos e até mesmo notícias que lia na Rebelde Oficial (quem lembra da RO?). Foi lá que meu interesse por Photoshop, HTML, CSS e blog em si começou. Se não fosse esse início, eu talvez não estaria aqui no Julie de Batom. Né?
    Com toda essa nostalgia, resolvi escutar algumas músicas da banda. E como tudo o que eu sinto, penso e gosto vira post aqui no JDB, trouxe uma lista com as minhas 10 canções favoritas da RBD. Sei que a Patrícia fez um top 5 há um tempo (confira), mas minha proposta é diferente, tá? Mesmo porque relembrar nunca é demais!












    Y no puedo olvidarte… #sdds. Quem aí compartilha o mesmo sentimento?
  • Pelo menos uma vez

    Ela era uma garota amargurada. Sozinha. Buscava nas palavras um jeito de esquecê-lo. Era seu refúgio. Ele. E escrever. Ela nem sabia por onde começar. Não só o texto da vez. Mas a vida. Sem ele.
    Já haviam se passado tantos anos. Talvez cinco ou seis. Mais da metade de uma década e o coração ainda não havia se curado. Que doença era essa, afinal? Se tinha cura, talvez sim. Mas dependia dela para começar o tratamento. Não adiantava forçar. A reabilitação não era fácil e precisava de uns beijos sem paixão. Uns caras que não queriam compromisso. Umas noites mal dormidas. Uns copos de uma bebida alcoólica qualquer.
    Ela tinha um caminho a seguir e, na primeira vez que tentara caminhar sozinha, esbarrou com o cara responsável por quebrar seu coração. Não em dois pedaços, mas em vários, se quer saber. Ela tentava colocar no bloco de notas tudo o que os mil pedacinhos de seu peito queriam dizer. Eram muitas vozes para escutar. Ela não aguentava ouvir todas elas. A cada vez que o fazia, seu coração se partia em alguns pedacinhos mais. Eram mais vozes para escutar – e mais lágrimas para explicar depois.
    Ao seu lado havia apenas uma janela aberta. Por ela dava para se ver o prédio ao lado. Por sorte, não havia ninguém no apartamento à sua frente. Estava vazio, assim como o documento, assim como seu coração. Ela queria encontrar um jeito de fazer aquilo. De escrever e de dizer o quanto ainda amava aquele cara, mesmo que ele nem estivesse por perto. Ou que estivesse. Nem isso ela poderia confirmar agora. E isso doía. Doía mais do que escutar os milhões de pedacinhos gritando por uma ajuda que, no momento, ela não poderia dar.
    Ela não queria culpá-lo. O fim da história não era só culpa dele. Ela tinha um pouco de culpa para si. Não iria terminar só porque um lado não queria. Os dois precisariam errar para chegar ao ponto do caminho onde cada um seguiria o seu próprio. Lá havia uma placa com duas setas. Cada uma apontando para um lado diferente. Ela ficaria no daqui. Ele, no de lá. 
    Ela não tinha ideia de como era o caminho dele. Talvez, mais fácil. Talvez até com algum encantamento para esquecê-la. Ela queria algo assim, e talvez até pediria para a Rainha de Copas (aquela do País das Maravilhas) arrancar algo seu. A cabeça, os pensamentos… Mas principalmente o coração. Ela o daria de bom grado e nem pediria nada em troca.
    Ela agora abominava o amor com todas as suas forças. Tinha medo e ódio desse sentimento. Tinha agonia só de pensar em se ver amando de novo. Tinha nojo de qualquer coisa que tivesse alguma relação com o amor. Mas sentia falta dele. Do amor dele. Da presença dele. Era a única parte do sentimento que ela entraria de corpo e alma. Com medo e com ódio. Com agonia e com nojo. Ela saberia que tudo isso a deixaria a partir do momento que ele estivesse por perto.
    Porque, afinal, havia um documento vazio sem nenhuma palavra para preenchê-lo. Havia uma garota sem qualquer ideia de como fazer sua dor lotar a tela com as frases de sempre. Havia um coração despedaçado e milhares de vozes para se ouvir. Mas havia um ele. Havia um ele em algum lugar. Um ele que, se quisesse, mudaria tudo. Até mesmo aquela garota sentada em frente à uma tela vazia, às três da madrugada, e desejando receber uma mensagem para mudar o rumo de suas palavras. Pelo menos uma vez.
  • Minhas lembranças de você

    Que droga de mania que a vida tem de testar a gente. Ela traz e leva lembranças com uma facilidade incrível. Aí vem a saudade… As vezes, aparece depois de uma música. Ou de um texto. Ou de um encontro casual. Ou de tudo. Vira bagunça, vira confusão. Vira ferida.
    É, cara. Lembrei de ti outro dia desses. Não de como te vejo agora, andando na rua como se eu fosse só mais uma entre tantas. Mas do jeito que eu te via antes. E do jeito que você me via antes. Sendo a única. A “é ela”. Acho que você já esqueceu disso tudo. 
    Eu tenho essa mania boba de escrever sentimentos. E escrevi tanto sobre você (e sobre nós, é claro) que não consigo te deixar ir. Pelo menos, não nas lembranças. Você aparece nas músicas da sua banda favorita quando eu insisto em escutá-las. Você aparece nos textos do meu antigo blog quando não tenho o que fazer e começo a reler tudo o que já escrevi. Você aparece na conversa quando encontro algum amigo seu. Você aparece até nos lugares mais estranhos que já visitei. Preciso dizer que minha cabeça é uma delas? Espero que não.
    Lembro de você quando seu sorriso era motivo do meu. E vice versa. E vice versa de novo. Lembro de você quando o dia era perdido se não tivesse, pelo menos, um SMS novo. Lembro de você quando a sorveteria era nosso ponto de encontro. Lembro de você quando trocou de óculos e eu dei risada do seu novo look. Lembro de você quando minhas amigas riam de nós. Lembro de você quando brigou com o garoto da sala que me machucou. Lembro de você quando ficou todo fofo ao me escutar cantando em inglês. Lembro de você quando não era um estranho. Quando não era só um cara do passado. Lembro de você quando era o único.
    Outros caras apareceram depois, assim como outras “elas”, depois de mim, chegaram em sua vida. Outros caras pareceram que seriam os únicos. E, assim como você, não foram. Outros caras quase tiveram meu coração como você o teve. Mas não foi tão fácil depois de você. Sabe, primeiro amor sempre marca, principalmente quando é tão forte. O sentimento já se foi, mas as lembranças ficam. Não porque é você, mas porque, um dia, foi alguém. Coração maluco. Não te ama mais, mas se recorda de tudo que passou.
    É, cara. Lembro de você com mais detalhes do que eu poderia imaginar. Mas lembro de você, acima de tudo, sendo aquele garoto amigo de uma amiga de infância que, no primeiro dia de aula, virou um contato no MSN. Que, na semana seguinte, já era protagonista dos meus sonhos e histórias. E que, hoje, faz uma falta danada. Não do mesmo jeito de antes, é claro. O mundo dá voltas e a vida muda toda hora. Mas sinto saudades das nossas conversas descontraídas. Acima de tudo, nós éramos amigos. E é isso que mais me dá nostalgia.
    E eu prefiro deixar para lá o fato de que, agora, a gente não passa de amigos. Só que apenas no Facebook…
  • Uma camisa listrada e um cigarro mal apagado

    Pela última vez, você passou por essa porta. Agora, pro lado de lá. Deixou sua camisa listrada jogada na cadeira da minha escrivaninha e, no chão, um cigarro mal apagado. Para além da porta, você foi buscar seu caminho sem mim. No lado de cá, querido, devo te dizer… Não restou caminho algum.
    Você abriu a porta, passou por ela e, junto com seus passos, foi também meu coração. Ou o que restou dele. Que seja. Agora não faz nenhuma diferença. Nem posso afirmar se alguma vez, realmente, ele foi inteiro. Mas se restou algum pedaço, este você destruiu. Caramba. Que droga é esse tal de amor. Vicia. Acaba com tudo. Droga.
    Esperei pelas lágrimas. Nesse quarto desconfortável, elas seriam as únicas coisas certas. Elas não demoraram a chegar, mas foi o bastante para me deixar impaciente. Eu queria a companhia de qualquer coisa. As lembranças foram as primeiras a bater na porta.
    Deixei que elas fizessem seu trabalho. Assisti, novamente, todos os seus beijos, sorrisos e nossas brigas. Desta vez, a trilha sonora era deprimente. Não do tipo que sabemos que, na cena seguinte, vai rolar uma reconciliação. Mas do tipo adeus. Como aquelas que tocam de fundo quando um personagem importante morre no filme.
    Foi impossível controlar as lágrimas que vieram. Quando me dei conta, elas já eram muitas. E muitas. E muitas. Senti como se minha alma estivesse me deixando. Quem liga? Você se foi. Deixou só sua camisa velha e um cigarro que agora já havia abandonado suas faíscas. Deixou um buraco no meu coração. Leve tudo, logo. Não importa, de qualquer forma.
    Ao meu redor, tudo continuava o mesmo, exceto pelo pouco de luz que agora vinha da janela. O sol dava espaço a um novo dia. Acho que eu devia aprender alguma coisa com ele e começar algo novo, também… Meu coração, quem sabe?
  • Lembranças

    Lembranças são ariscas. Perigosas. A gente nunca sabe de onde (e quando digo onde, me refiro a um momento lá atrás) elas vão chegar. O pior é que nunca estamos preparados. Aparecem, cavam um novo buraco no peito e, às vezes, se vão com a mesma pressa que chegaram. 
    Lembranças não desaparecem, não caem no esquecimento e, ao contrário do que a gente pensa, não são fáceis de serem deixadas para trás. É bem ao contrário. Nós não esquecemos nosso passado, não perdemos nossas memórias. Apenas aprendemos a lidar com todas elas. Ou, em muitos casos, aceitamos que estão ali, apenas compartilhando o presente conosco do mesmo jeito e quase com a mesma intensidade de quando eram reais. No fundo, só existem essas duas opções, mesmo. Fazer o quê?
    A gente não perde nossas memórias, não as deixamos de lado. Elas machucam e não são piedosas. E não é fácil viver com a dor, com o vazio no coração e com a vontade de possuir uma máquina do tempo que nos permita voltar no passado e mudar tudo. Máquinas do tempo só existem em filmes (e ainda me pergunto se isso é bom ou ruim. Imagina que louco ficar voltando o passado como voltamos a cena anterior do filme?). E também não possuímos nada parecido com aquele controle remoto de Click. Moral da história: só temos uma chance, uma oportunidade, uma tentativa. Se houver uma segunda, é sorte. Mas só podemos garantir uma única. E temos que aproveitá-la.
    A vida passa e cada segundo é, ou deveria ser, precioso. Nossas vidas são feitas de escolhas. Nós escolhemos onde vamos parar, mesmo que sejam decisões indiretas. Se estamos bem ou mal, em parte, é nossa responsabilidade. Nós é que temos mania de culpar o outro. A culpa se torna mais legal e mais leve quando está nos ombros de qualquer um desde que não sejam os nossos, não é?
    É claro que não é fácil conviver com o passado agindo como se fosse presente (ambiguidade, você por aqui?). Passado é passado e ele nunca se tornará um presente. Passado não é agora e ele foi feito para ficar lá atrás, apenas existindo naquele momento. Mas passado também não foi feito para ser esquecido, pelo contrário. Lembranças são experiências, e elas nos fazem crescer, evoluir. A gente não esquece o que foi bom e nem o que foi ruim. Memórias são parte da vida, e esquecê-las é apagar uma parte de nossa vida. 
    Acredito que, na essência, tudo tem um lado bom. Lembranças boas, um dia, se tornam ruins (saudade é uma merda, vocês sabem). E quando isso acontece, não devemos nos remoer de arrependimento nem afundar no vazio que agora existe dentro de nós. Mas, sim, agradecer pelas memórias que ficaram. Quer o lado bom disso tudo? Elas foram reais, aconteceram de verdade. São provas de que, em algum período, existiram. Nada nem ninguém pode nos tirar isso. Viu? Nem tudo está perdido, afinal.
  • Uma cadeira vazia

    Entrei naquele restaurante que a gente jantava todos os sábados. Já fazia muito tempo que eu não passava por caminhos que me lembrassem você. Mas hoje, sei lá o motivo, eu senti que devia refazer a rota. A nossa rota.
    Sentei na mesa de sempre. Sabe… Aquela que, se estivesse ocupada, você me fazia esperar só para vê-la vazia. Hoje, não havia ninguém naquelas cadeiras de sempre. Assim como no meu coração.
    Pedi meu prato favorito junto com o sabor do suco que você sempre bebia – e eu odiava. Nem me importei. Talvez meu subconsciente só estivesse querendo, de alguma forma, sentir você por ali. Não que eu precisasse disso. Mas tudo seria incompleto sem uma dose de você.
    Em algum lugar dentro de mim, eu desejei que o suco não fosse minha única recordação de nós. Eu queria enxergar seus olhos do outro lado da mesa. Queria que sua mão tocasse a minha quando eu ficasse nervosa demais para conseguir falar. Queria que você fosse bem mais que uma cadeira vazia a minha frente. Meu coração já não era seu. Mas as lembranças continuavam sendo minhas.
    Olhei ao meu redor. Não havia nenhum rosto conhecido. Talvez, só o do cara do caixa ou da garçonete que uma vez te cantou. 
    O garçom chegou com meus pedidos. Antes de levar a comida à boca, tomei um gole do seu suco favorito. Manga. Eca. Odiava esse sabor. Mas, pela primeira vez, não senti tanta repulsa assim. Eu ainda achava ruim o gosto. Só que, ao contrário das outras noites, algo me fazia gostar do sabor. Talvez fossem só as lembranças aparecendo.
    Olhei para a janela logo ali ao meu lado. Então, entendi o motivo de você sempre querer este lugar; tudo era tão lindo! O reflexo do sol nas casas e nos edifícios formava uma paisagem única – que ficava ainda mais completa com as pessoas e carros passando pela rua. Eu nunca tinha reparado em nada disso. Antes eu tinha algo melhor para ocupar meus olhos…
    Sorri. Pela primeira vez em muito tempo, sorri. Sorri por você não estar ali e não ver como eu estava sendo boba. Sorri por você não começar a dizer que eu não deveria estar ali… Que eu não deveria me afundar tanto no passado. Principalmente quando não era saudável fazer isso.
    Levantei-me da cadeira e, com o papel na mão, fui até o caixa. Desta vez, era outro funcionário que estava atendendo. Não o reconheci. Eu não sabia se isso era bom ou ruim… Sabe, mudar tudo. Como se o antes nunca tivesse existido.
    Acho que as coisas estavam mudando em todos os lugares. E não só dentro de mim…
  • Reencontro

    Nós nos reencontramos no lugar de sempre. Você nem reparou no meu piercing no nariz. E eu achei impossível não reparar no seu novo corte de cabelo. Nosso reencontro tinha data marcada desde o nosso adeus e nós a cumprimos pontualmente. Era como se, de alguma forma, não houvesse alguns meses entre nossa despedida e hoje. Só um dia, um fim de semana ou um feriado prolongado.
    Você sorriu como nunca o vi sorrir. Eu tentei manter todos os meus risos presos em mim, mas não consegui repreendê-los. Era como se todos eles estivessem trancados em um baú durante todo esse tempo. E você era a chave que libertou-os.
    Sentamos no nosso banco favorito do campus. Ri de algumas piadas bobas suas e você disse outras só para ver meu sorriso. Deixei que as borboletas no estômago voassem livremente. Eu sentia falta delas… De tê-las por perto quando estava com você.
    Fiquei refletindo, enquanto escutava sua voz, se eu deveria me importar com meu coração. Passei todo esse tempo tentando ignorar seu rosto em minha mente ou parar de pensar nas suas últimas palavras. Tentei não olhar o sol, os fogos de artifício ou as estrelas durante todos esses meses. Era como se elas esfregassem na minha cara todas as suas últimas frases. Lembra delas?
    Você continuou com suas piadas. Eu, com meus devaneios. E a gente ficou assim durante um bom tempo. Você não fazia ideia do que se passava em minha cabeça. E eu não entendia metade das suas brincadeiras. Queria saber onde e com quem você aprendeu todas elas.
    As férias de você foram as mais longas da minha vida. A cada novo dia, eu escutava uma banda de rock diferente. Era como se os solos de guitarra e a bateria pudessem ocupar meu cérebro e calar meu coração. Este não cansava de chamar por você e eu não cansava de tentar ignorá-lo. 
    Mas aqui, enquanto seus olhos cor-de-mel brilhavam e uma mecha do seu cabelo quase loiro caía na sua testa, tive certeza de que, por mais que o tempo tenha nos separado, meu coração ainda chamava você do mesmo jeito, com a mesma intensidade. Eu ainda sentia tudo o que escrevi naquela carta. Sentia você da mesma forma que descrevi naquelas palavras.
    Eu não faço ideia de onde aquela folha está agora; no seu caderno, na sua pasta ou perdida em uma das suas gavetas. Mas sei onde – e como – está meu coração. Bem aqui e inteiro. Completo.