Tag: amor

  • Você poderia…

    Hoje eu resolvi ouvir meu coração depois de muito tempo tentando calá-lo. E sabe qual foi a primeira coisa que ele sussurrou? Seu nome. Inteiro. De frente para trás e de trás para frente. Sussurrou uma ou duas vezes. Depois, começou a gritá-lo como se, assim, pudesse afundá-lo ainda mais no buraco que meu peito se tornou. Caramba, cara. Você ainda causa estrago em mim. Mesmo depois de tanto tempo…
    Senti sua falta hoje depois que escutei aquela música presente em uma das nossas mensagens. Aliás, adicione as mensagens à saudade, também. Olhei meu celular, meu Facebook e até o tal do MSN. Senti você por lá. Por aqui. No coração e nas marcas que ficaram em minha pele.
    Ouvi sua voz, senti seu toque e posso até jurar que você estava por perto. A-há. Pegadinha do coração. Saudade tem essa mania de colocar perto da gente as lembranças de quem está muito longe no momento. Saudade tem essa mania de viver no passado. Que droga. Logo agora que eu podia jurar que já tinha o pé lá no futuro. 
    Lembrei de você mais do que deveria. Dei permissão que meu coração falasse e agora ele não consegue calar a boca. Estou parecendo você quando me mandava ficar quieta por uns minutos só para ver minha cara de brava. Ops. Acho que agora entendo como isso é irritante.
    As lembranças abriram um buraco no lugar que imaginei estar inteiro depois que você se foi. E voltou. E se foi de novo. Impossível não querer saber se, um dia, esse vai e volta irá terminar. Ou você aqui ou você por lá. Com os sentimentos nos unindo ou, finalmente, com eles nem existindo mais. 
    Só quero saber se, lá na frente, tudo isso vai acabar e, de uma vez por todas, virar um romance. Um livro, talvez. Sabe… Nós dois. Você vai ser o protagonista daquela história de amor que, no futuro, vou contar aos meus netos. Se o destino der uma mãozinha, eles poderão ser nossos, é claro.
    E você bem que poderia estar ao meu lado quando vários olhinhos curiosos nos olhassem para saber o que aconteceu até ali. Você poderia ser o cara ao meu lado, rindo com nossos desencontros e segurando minha mão nas piores partes. Você poderia ser o cara ao meu lado quando eu dissesse, com lágrimas nos olhos, como o destino foi injusto com nós dois. Você poderia estar ao meu lado agora e no futuro. Sabe, como dizem por aí: para sempre.
    Você poderia estar ao meu lado quando, com as bochechas rosadas, eu olhasse para àquelas crianças e dissesse que nossa história ainda não teve fim. Porque o primeiro, o grande e único amor da minha vida está ali ao meu lado. Rindo, como sempre fez. Contando uma piada sem graça – mas que me arrancaria um riso só por ouvir sua voz. E tocando minha mão ao dizer que, mesmo depois de tanto tempo, o mais importante restou. Amor.
  • Minhas lembranças de você

    Que droga de mania que a vida tem de testar a gente. Ela traz e leva lembranças com uma facilidade incrível. Aí vem a saudade… As vezes, aparece depois de uma música. Ou de um texto. Ou de um encontro casual. Ou de tudo. Vira bagunça, vira confusão. Vira ferida.
    É, cara. Lembrei de ti outro dia desses. Não de como te vejo agora, andando na rua como se eu fosse só mais uma entre tantas. Mas do jeito que eu te via antes. E do jeito que você me via antes. Sendo a única. A “é ela”. Acho que você já esqueceu disso tudo. 
    Eu tenho essa mania boba de escrever sentimentos. E escrevi tanto sobre você (e sobre nós, é claro) que não consigo te deixar ir. Pelo menos, não nas lembranças. Você aparece nas músicas da sua banda favorita quando eu insisto em escutá-las. Você aparece nos textos do meu antigo blog quando não tenho o que fazer e começo a reler tudo o que já escrevi. Você aparece na conversa quando encontro algum amigo seu. Você aparece até nos lugares mais estranhos que já visitei. Preciso dizer que minha cabeça é uma delas? Espero que não.
    Lembro de você quando seu sorriso era motivo do meu. E vice versa. E vice versa de novo. Lembro de você quando o dia era perdido se não tivesse, pelo menos, um SMS novo. Lembro de você quando a sorveteria era nosso ponto de encontro. Lembro de você quando trocou de óculos e eu dei risada do seu novo look. Lembro de você quando minhas amigas riam de nós. Lembro de você quando brigou com o garoto da sala que me machucou. Lembro de você quando ficou todo fofo ao me escutar cantando em inglês. Lembro de você quando não era um estranho. Quando não era só um cara do passado. Lembro de você quando era o único.
    Outros caras apareceram depois, assim como outras “elas”, depois de mim, chegaram em sua vida. Outros caras pareceram que seriam os únicos. E, assim como você, não foram. Outros caras quase tiveram meu coração como você o teve. Mas não foi tão fácil depois de você. Sabe, primeiro amor sempre marca, principalmente quando é tão forte. O sentimento já se foi, mas as lembranças ficam. Não porque é você, mas porque, um dia, foi alguém. Coração maluco. Não te ama mais, mas se recorda de tudo que passou.
    É, cara. Lembro de você com mais detalhes do que eu poderia imaginar. Mas lembro de você, acima de tudo, sendo aquele garoto amigo de uma amiga de infância que, no primeiro dia de aula, virou um contato no MSN. Que, na semana seguinte, já era protagonista dos meus sonhos e histórias. E que, hoje, faz uma falta danada. Não do mesmo jeito de antes, é claro. O mundo dá voltas e a vida muda toda hora. Mas sinto saudades das nossas conversas descontraídas. Acima de tudo, nós éramos amigos. E é isso que mais me dá nostalgia.
    E eu prefiro deixar para lá o fato de que, agora, a gente não passa de amigos. Só que apenas no Facebook…
  • Uma camisa listrada e um cigarro mal apagado

    Pela última vez, você passou por essa porta. Agora, pro lado de lá. Deixou sua camisa listrada jogada na cadeira da minha escrivaninha e, no chão, um cigarro mal apagado. Para além da porta, você foi buscar seu caminho sem mim. No lado de cá, querido, devo te dizer… Não restou caminho algum.
    Você abriu a porta, passou por ela e, junto com seus passos, foi também meu coração. Ou o que restou dele. Que seja. Agora não faz nenhuma diferença. Nem posso afirmar se alguma vez, realmente, ele foi inteiro. Mas se restou algum pedaço, este você destruiu. Caramba. Que droga é esse tal de amor. Vicia. Acaba com tudo. Droga.
    Esperei pelas lágrimas. Nesse quarto desconfortável, elas seriam as únicas coisas certas. Elas não demoraram a chegar, mas foi o bastante para me deixar impaciente. Eu queria a companhia de qualquer coisa. As lembranças foram as primeiras a bater na porta.
    Deixei que elas fizessem seu trabalho. Assisti, novamente, todos os seus beijos, sorrisos e nossas brigas. Desta vez, a trilha sonora era deprimente. Não do tipo que sabemos que, na cena seguinte, vai rolar uma reconciliação. Mas do tipo adeus. Como aquelas que tocam de fundo quando um personagem importante morre no filme.
    Foi impossível controlar as lágrimas que vieram. Quando me dei conta, elas já eram muitas. E muitas. E muitas. Senti como se minha alma estivesse me deixando. Quem liga? Você se foi. Deixou só sua camisa velha e um cigarro que agora já havia abandonado suas faíscas. Deixou um buraco no meu coração. Leve tudo, logo. Não importa, de qualquer forma.
    Ao meu redor, tudo continuava o mesmo, exceto pelo pouco de luz que agora vinha da janela. O sol dava espaço a um novo dia. Acho que eu devia aprender alguma coisa com ele e começar algo novo, também… Meu coração, quem sabe?
  • A volta do meu coração

    – Até amanhã, Carol!
    Dei dois beijos na bochecha da Paloma e segui para um banco próximo à saída da universidade. Assim que cheguei, apoiei os cadernos e livros em cima dele e organizei todos na bolsa. Preferia o peso nas costas do que aquele volume nos braços.
    Assim que arrumei meu material, levantei e segui para a saída. Tirei a carteirinha do bolso e, antes de passar pela catraca, olhei para os lados só por mania boba. Me arrependi na mesma hora de ter feito isso.
    Lá estava ele. Julio. Estava rindo com uma garota que nunca vi na vida. Caramba! Eu não tinha jurado a mim mesma que não sentia nada por ele? Por que aquilo mexia tanto comigo? 
    Enquanto eu pensava, a garota ria de alguma coisa que ele falou. 
    Com muito sacrifício – e muita vontade de ir lá interromper o papo com qualquer bobeira sobre as aulas -, saí da universidade. Apressei o passo na esperança de que, mesmo que o Julio saísse ao mesmo tempo, eu ainda conseguisse alguma vantagem.
    Segui em frente apenas me concentrando em colocar um pé na frente do outro. Depois de alguns passos, percebi que meu tênis estava desamarrado. Droga! 
    Abaixei e me encostei no meio fio para amarrar o cadarço. Mentalmente, agradeci por ter guardado tudo na bolsa. Seria um trabalho tão grande se eu ainda estivesse com todos aqueles livros na mão…
    – Carol? – Perguntou uma voz atrás de mim.
    Não! Não! Mil vezes não! Não aquela voz. Não aquele rosto que, se eu virasse, estaria tão próximo. Não pode ser!
    Tentei forçar o melhor sorriso que pude. Falhei. Não encontrando outra saída, falei sem nem olhar no rosto dele. 
    – Oi, Julio. – Respondi, sem entusiasmo.
    Sem mais cadarço para prender minha atenção, me vi obrigada a levantar. Merda! Eu não queria ir embora com ele. Não depois daquilo e não depois dos meus sentimentos se fragilizarem daquele jeito. 
    Queria tanto ter uma desculpa para virar naquela próxima rua…
    Seguimos andando em silêncio. Pelo menos, eu estava. O Julio continuava com umas conversas que, sinceramente, não lembro nada. Era uma mistura de provas com trabalhos e um resumo sem muitos detalhes sobre as férias. 
    A Carol de alguns meses atrás iria se importar com cada detalhe. Isso era bom, né? Pelo menos, minhas defesas continuavam intactas. Em parte.
    Quando dei por mim, Julio estava segurando minha mão como se fosse a coisa mais natural possível. Estávamos andando assim, juntos, como um casal. Será que ele não se tocava no quanto isso era ridículo? 
    – Acho que os calouros são legais. Conversei com alguns hoje e gostei de algumas ideias. Poderíamos fazer uma festa de confraternização, o que acha?
    – Por quê? Quer conhecer melhor as suas amiguinhas?- Respondi, soltando minha mão da dele. Com sua pele longe da minha, ficou tão mais fácil pensar!
    – Não, Carol… – Respondeu, confuso. Ele olhou para nossas mãos separadas e continuou com o olhar baixo.
    – Ok, Julio. – Rendi-me. – Desculpa, falei besteira. Só estou nervosa com umas coisas… – olhei seu rosto e, automaticamente, sem nem pensar, peguei sua mão. 
    Ele sorriu e continuamos andando por aquela rua que guardava tantas lembranças. Eu não conseguia pensar em nada para completar o silêncio. Só em uma coisa…
    – Julio? – Chamei-o. – Você não acha que isso – levantei nossas mãos juntas – dá a impressão errada do que realmente somos? – Olhei seu rosto a procura de alguma mágoa. Só encontrei constrangimento.
    Ele não respondeu e minha curiosidade não iria se contentar com aquilo. Insisti.
    – Por que você insiste em andar comigo assim? – Desta vez, não precisei levantar nossas mãos para que ele entendesse sobre o que eu estava falando. 
    Ele demorou alguns segundos para responder. Finalmente, olhou para mim e disse:
    – Isso é bom. – Sorriu. – E você é melhor nisso do que imagina.
    Opa. Minha vez de ficar constrangida.
    Prosseguimos nosso caminho. Uma parte de mim estava louca para chegar em frente ao prédio dele (onde, normalmente, nos separávamos). Outra parte queria que o prédio nunca chegasse. Era tão bom ficar assim, tão próxima dele…
    Depois de alguns minutos de silêncio e uns poucos assuntos, chegamos em frente ao edifício marrom onde Julio morava. Ele se demorou por alguns segundos e continuou com nossas mãos unidas.
    Ele estava quieto, ansioso. Não sei o que me deixou assim também. Estávamos tão próximos. Tão… Tão ali, a só um inclinar de rostos.
    Quando dei por mim, meus lábios estavam encostando nos dele. Julio soltou nossas mãos e me abraçou forte, unindo nossos lábios mais umas duas ou três vezes.
    Antes de me dizer um “até amanhã”, Julio deu o sorriso mais lindo e sincero que já vi. Entrei no táxi que me levaria para casa ainda pensando no que acabara de acontecer. Minha mente continuava confusa, apesar das perguntas serem diferentes agora. E meu coração… Bom, esse aí não tinha mais jeito. Era como se ele estivesse longe, voltando só agora. Era como se, novamente, eu pudesse senti-lo dentro de mim, batendo numa intensidade louca.
    Intensidade essa que pensei que nunca mais sentiria de novo.
  • Uma cadeira vazia

    Entrei naquele restaurante que a gente jantava todos os sábados. Já fazia muito tempo que eu não passava por caminhos que me lembrassem você. Mas hoje, sei lá o motivo, eu senti que devia refazer a rota. A nossa rota.
    Sentei na mesa de sempre. Sabe… Aquela que, se estivesse ocupada, você me fazia esperar só para vê-la vazia. Hoje, não havia ninguém naquelas cadeiras de sempre. Assim como no meu coração.
    Pedi meu prato favorito junto com o sabor do suco que você sempre bebia – e eu odiava. Nem me importei. Talvez meu subconsciente só estivesse querendo, de alguma forma, sentir você por ali. Não que eu precisasse disso. Mas tudo seria incompleto sem uma dose de você.
    Em algum lugar dentro de mim, eu desejei que o suco não fosse minha única recordação de nós. Eu queria enxergar seus olhos do outro lado da mesa. Queria que sua mão tocasse a minha quando eu ficasse nervosa demais para conseguir falar. Queria que você fosse bem mais que uma cadeira vazia a minha frente. Meu coração já não era seu. Mas as lembranças continuavam sendo minhas.
    Olhei ao meu redor. Não havia nenhum rosto conhecido. Talvez, só o do cara do caixa ou da garçonete que uma vez te cantou. 
    O garçom chegou com meus pedidos. Antes de levar a comida à boca, tomei um gole do seu suco favorito. Manga. Eca. Odiava esse sabor. Mas, pela primeira vez, não senti tanta repulsa assim. Eu ainda achava ruim o gosto. Só que, ao contrário das outras noites, algo me fazia gostar do sabor. Talvez fossem só as lembranças aparecendo.
    Olhei para a janela logo ali ao meu lado. Então, entendi o motivo de você sempre querer este lugar; tudo era tão lindo! O reflexo do sol nas casas e nos edifícios formava uma paisagem única – que ficava ainda mais completa com as pessoas e carros passando pela rua. Eu nunca tinha reparado em nada disso. Antes eu tinha algo melhor para ocupar meus olhos…
    Sorri. Pela primeira vez em muito tempo, sorri. Sorri por você não estar ali e não ver como eu estava sendo boba. Sorri por você não começar a dizer que eu não deveria estar ali… Que eu não deveria me afundar tanto no passado. Principalmente quando não era saudável fazer isso.
    Levantei-me da cadeira e, com o papel na mão, fui até o caixa. Desta vez, era outro funcionário que estava atendendo. Não o reconheci. Eu não sabia se isso era bom ou ruim… Sabe, mudar tudo. Como se o antes nunca tivesse existido.
    Acho que as coisas estavam mudando em todos os lugares. E não só dentro de mim…
  • Aquele texto sobre nós

    Nós nos encontramos na praça de sempre, com o mesmo sorriso e a mesma mania de achar que ele era suficiente. Aproveitamos o fim da tarde, o aparecimento da lua e as primeiras estrelas. Aos poucos, deixamos o tempo nos levar e ele, finalmente, nos levou.
    Você foi comigo até o táxi mais próximo e, com um beijo rápido, se despediu. O sorriso ainda era o mesmo. O corte de cabelo, quase. Sorri involuntariamente e deixei seu perfume preencher meu cérebro. O motorista perguntou o destino e, antes que eu pudesse responder, você falou a rua, o número da casa e o bairro. Informações que eu poderia jurar que você nem lembrava mais.
    Começou a viagem de volta, aquela que seria mais cheia de lembranças do que sinais vermelhos. Passei pela praça que guardava nossa primeira conversa e pela esquina que você me cumprimentou pela primeira vez. Poderia até imaginar nosso primeiro beijo na rua daquela padaria que você gostava. Nós nunca entramos lá para saber se os bolos eram tão gostosos quanto o cheiro. Acho que eu poderia colocar isso na listinha de coisas que devemos fazer, né?
    Passei por ruas, esquinas e praças que faziam parte da nossa história. Cada um tinha um nome diferente – talvez sempre relacionados com políticos ou, sei lá, estados – mas, para mim, cada um tinha um momento diferente. O que marcava aquela esquina, aquela padaria ou aquela árvore não eram nomes. Eram lembranças. Beijos. Abraços. Sorrisos. Lágrimas. Nós.
    Cada pedaço da gente estava no caminho de volta. Pedi ao motorista para abrir a janela e aproveitei a brisa nos meus cabelos. Nesta altura do dia, nem me importava se ele fosse bagunçar ou não. Eu só queria chegar em casa.
    Desci do táxi, paguei a viagem e entrei em casa. Tudo escuro. É claro. 
    Depois de alguns minutos procurando a chave (Droga! Eu poderia jurar que estava embaixo do tapete…), abri a porta e o ar quente me encontrou. Joguei a bolsa no sofá, o casaco na cama e eu, na cadeira do computador.
    Sinal verde ao lado do seu nome. 
    Você estava louco para encontrar um wi-fi para entrar no Instagram postar a foto dos nossos sorvetes. E eu estava louca para saber se você tinha lido meu último texto. Vasculhei todos os comentários a procura do seu, de um anônimo ou alguém que eu pudesse dizer “é ele”. E você, colocou uma foto no Instagram. Não de sorvetes. A nossa.
    Você não me procurou e eu não me preocupei em te chamar. O sinal verde ao lado do seu nome sumiu e deixei o computador ligado enquanto tomava um banho. Quando voltei, tinha um SMS não lido. Era seu.
    Esqueci de dizer que adorei seu último texto. Aquele sobre nós (é, eu sei que é sobre nós). Aliás… Você sabe nos descrever melhor que ninguém. Espero continuar sendo sua inspiração. 

    Segurei o celular como se, assim, pudesse sentir cada palavra. Sorri involuntariamente. E, antes de cair no sono – sem tirar a maquiagem -, lembrei do nosso dia. Das nossas risadas. Dos nossos momentos. Da nossa praça. Dos nossos lugares. Da gente.

    OBS: Texto inspirado em um casal que vi hoje em uma praça. 

  • Reencontro

    Nós nos reencontramos no lugar de sempre. Você nem reparou no meu piercing no nariz. E eu achei impossível não reparar no seu novo corte de cabelo. Nosso reencontro tinha data marcada desde o nosso adeus e nós a cumprimos pontualmente. Era como se, de alguma forma, não houvesse alguns meses entre nossa despedida e hoje. Só um dia, um fim de semana ou um feriado prolongado.
    Você sorriu como nunca o vi sorrir. Eu tentei manter todos os meus risos presos em mim, mas não consegui repreendê-los. Era como se todos eles estivessem trancados em um baú durante todo esse tempo. E você era a chave que libertou-os.
    Sentamos no nosso banco favorito do campus. Ri de algumas piadas bobas suas e você disse outras só para ver meu sorriso. Deixei que as borboletas no estômago voassem livremente. Eu sentia falta delas… De tê-las por perto quando estava com você.
    Fiquei refletindo, enquanto escutava sua voz, se eu deveria me importar com meu coração. Passei todo esse tempo tentando ignorar seu rosto em minha mente ou parar de pensar nas suas últimas palavras. Tentei não olhar o sol, os fogos de artifício ou as estrelas durante todos esses meses. Era como se elas esfregassem na minha cara todas as suas últimas frases. Lembra delas?
    Você continuou com suas piadas. Eu, com meus devaneios. E a gente ficou assim durante um bom tempo. Você não fazia ideia do que se passava em minha cabeça. E eu não entendia metade das suas brincadeiras. Queria saber onde e com quem você aprendeu todas elas.
    As férias de você foram as mais longas da minha vida. A cada novo dia, eu escutava uma banda de rock diferente. Era como se os solos de guitarra e a bateria pudessem ocupar meu cérebro e calar meu coração. Este não cansava de chamar por você e eu não cansava de tentar ignorá-lo. 
    Mas aqui, enquanto seus olhos cor-de-mel brilhavam e uma mecha do seu cabelo quase loiro caía na sua testa, tive certeza de que, por mais que o tempo tenha nos separado, meu coração ainda chamava você do mesmo jeito, com a mesma intensidade. Eu ainda sentia tudo o que escrevi naquela carta. Sentia você da mesma forma que descrevi naquelas palavras.
    Eu não faço ideia de onde aquela folha está agora; no seu caderno, na sua pasta ou perdida em uma das suas gavetas. Mas sei onde – e como – está meu coração. Bem aqui e inteiro. Completo.
  • Fila do banco

    Nós nos encontramos na fila do banco aquele dia. Eu usava aquele tênis surrado de sempre. Você, uma camisa que te presenteei. Eu poderia reconhecê-la de longe. Fiquei semanas juntando o troco do lanche da escola só para comprá-la para você. Lembra?
    Tentei desviar mas você sentiu meu perfume. Não era por menos: foi você mesmo que me deu num aniversário há alguns anos. Eu nunca parei de usá-lo, sabia? Virou meu aroma. E, pelo visto, você não o esqueceu.
    – Você por aqui, Camy?
    Sorri sem graça. Não sabia o que dizer e não esperava sentir as borboletas no estômago. Meu coração já não tinha se acostumado ao vazio? Pensei que sim.
    – É… – hesitei. – Minha mãe pediu para pagar umas contas.
    Mordi a língua e tentei não falar mais nada. Queria perguntar se você ainda lembrava das manias dela. Ou das minhas. Sacudi a cabeça, tentando me livrar dos pensamentos que agora emergiam.
    Já estava ali e não poderia escapar. Fiquei atrás de você na fila, apenas esperando que o caixa fosse rápido o bastante para me livrar de tudo aquilo. Eu fugiria dali se a conta não estivesse atrasada há três dias. Minha mãe iria me matar se o preço aumentasse. 
    Mas quase valia a pena pagar alguns reais a mais só para me livrar de você. Eu poderia deixar a covardia me levar. Só que, lá no fundo, eu sabia que ela, literalmente, me custaria caro.
    A fila diminui e o silêncio aumentou. Seu perfume estava me entorpecendo e tentei não fixar minha mente nisso. Para passar o tempo, comecei a olhar outras filas. Outros rostos. Tentei sentir outros perfumes também e reparar nos garotos que usavam camisa xadrez. Não deu certo. 
    O único que atraía meus olhos não estava vestindo minha estampa favorita. Ao contrário. Usava uma camiseta verde, a cor que eu mais odiava no mundo. Lembro que, quando você abriu o pacote e deu de cara com ela, riu da minha expressão de nojo. Sorri com a lembrança. Você também vestia uma bermuda folgada, do tipo que meu pai nunca aprovaria.
    Olhei para a frente. Você estava no caixa, separando uns trocados e tirando a carteira do bolso. Tentei espionar para saber se você ainda guardava aquela fitinha da cidade de Aparecida. Lembra o quanto gostava dela?
    Suspirei. Você terminou suas obrigações e, com um sorriso, acenou para mim. Sorri em resposta e dei um passo para o atendente enquanto meu coração não conseguia se acalmar.
  • Conflitos de uma Paixão: capítulo 11

    Confira os capítulos anteriores.

    Matt continuava esperando uma resposta. Ansioso. Com medo. E, mesmo assim, seus lábios ainda se repuxavam em um sorriso e seu rosto encarava o meu. 
    – E então? – perguntou após alguns minutos. Ou segundos. Não sei. 
    Respirei fundo, tentando entender o turbilhão de pensamentos que passavam por minha cabeça. Senti como se eles tivessem se transformado em um tornado, destruindo tudo por onde passava. 
    – Matt, eu… – pigarreei, tentando limpar a garganta e sumir com a vontade de chorar. – Eu não sei. – confessei. 
    Matt continuou ajoelhado e puxou-me para o chão, fazendo-me ficar na mesma altura. Nós dois ficamos ali, ajoelhados na calçada, olhando os olhos do outro por alguns instantes. Finalmente, ele quebrou o silêncio enquanto limpava uma lágrima em meu rosto – lágrima que nem senti quando esta ganhou vida. 
    – Mandy… – hesitou. – Mandy, eu… Eu sei que fui um idiota. – suspirou fundo e entrelaçou nossos dedos. – Aliás, idiota é pouco. – neguei com a cabeça e ele sorriu, assentindo. – Mas desta vez eu quero fazer diferente. Agora que sei que o que sinto é recíproco, eu não posso te perder. Entende isso? 
    Assenti e ele sorriu. Eu ainda estava paralisada, entorpecida demais, para usar minha voz. Não sabia onde ela se encontrava. 
    Matt continuou com seu olhar firme no meu. Apertou minha mão e continuou: 
    – Eu te amo. – sussurrou. – Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo! Eu queria dizer cada “eu te amo” que guardei nesses últimos anos. Quero que, nos próximos, a gente não precise esconder essa frase. – ele sorriu e, pela primeira vez, tirou seus olhos dos meus. – Não quero que a gente precise guardar todas essas declarações. Você sabe o quanto odeio deixar acumular… – Ele deu um sorriso forçado e eu o imitei. 
    – Eu te amo. – disse, por fim. – Eu te amo e vou arriscar pular desse penhasco com você. – sorri. – Acho que essa é a definição mais apropriada para nós. Pelo menos, no momento. 
    – Eu entendo. – Ele voltou a olhar meus olhos e, com um sorriso – desta vez, verdadeiro – completou: – E quero ser seu paraquedas, seu salva-vidas. Quero ser aquele que, caso você cair, você saiba que estarei lá por você. Ou, na pior das hipóteses, que vou pular atrás. – Ele acariciou minha mão e, com a outra, ergueu a caixinha preta com o anel. – Amanda Jones. – Disse, sorrindo. – Aceita ser, e desta vez, de verdade, minha esposa? 
    – Aceito. – sussurrei, trêmula. 
    Matt colocou o anel em meu dedo, sorrindo de um jeito que nunca o vi sorrir antes, aproximou nossos rostos e, antes de me beijar, sussurrou outro “eu te amo”. Minha resposta foi tardia demais para ser audível. 
    Levantamos da calçada, risonhos com a situação, e entramos no pub que, há alguns anos atrás, foi o local do início desta confusão toda. Nós conseguimos sentar na mesma mesa e, rindo, ficamos relembrando alguns momentos da universidade, das nossas saídas e até da nossa vida atual.
    E ficamos ali, no local onde tudo começou, tentando começar uma outra fase. A nossa.